Viver
Quarenta espectáculos para ver num mês
Cistermúsica Cinema, dança, música, teatro e marionetas
“Música sem Fronteiras numa matriz universalista, celebrando a música de um mundo multicultural e sem fronteiras”, é o lema deste ano do Cistermúsica – Festival de Música de Alcobaça.
A organização do evento, que decorre de 29 de Junho a 29 de Julho, optou por marcar uma posição numa época onde os nacionalismos regressaram como ameaça e a programação desta edição não deixa espaço para dúvidas quanto a esse objectivo.
No dia 1, domingo, às 18 horas, a nave central do Mosteiro de Alcobaça, acolheu a Missa de Notre Dame, de Guillaume de Machaut, primeira versão musical completa do ordinário da missa e obra fundadora no cânone da música ocidental, que abriu a programação principal, interpretada pelo Ensemble Gilles Binchois.
O Quarteto de
Cordas Casals
(Espanha),
que
interpretará
obras de
Beethoven
(Quartetos op.
95 e op.
130/133) é
uma das
formações
com presença
agendada no
Celeiro, em
Alcobaça
O Cistermúsica 2018, organizado pela Banda de Alcobaça (BA) e pela Câmara Municipal local, apresentará perto de 40 propostas artísticas, em Alcobaça, na Marinha Grande (Teatro Stephens) e nos mosteiros cistercienses de Arouca, Évora, Penacova e São Pedro do Sul.
A aposta na descentralização do festival é a continuação de um objectivo que o certame prossegue há anos. No concelho, haverá ainda espectáculos no Mosteiro de Cós, na vila da Benedita, em Pataias e em São Martinho do Porto.
No dia 20 de Julho, assinalando os 20 anos da atribuição do Prémio Nobel a José Saramago, o grupo de teatro Triacto apresentará A Maior Flor do Mundo. No dia 6, regressa a música de câmara, com o Quarteto Casals que apresentará um programa beethoveniano que inclui o quarteto op. 130, a Grande Fuga e uma estreia do compositor espanhol de origem catalã Benet Casablancas.
Mais uma vez, haverá a aposta nos mais novos. “A atracção de um público jovem que, como sabemos, não é habitual na música clássica tem vindo a ser uma aposta ano após ano. Desde logo, através da programação didáctica – Cistermúsica Júnior e Famílias – que conta com várias produções pensadas para os maior novos. Acresce que a maioria dos espectáculos júnior e famílias são assegurados pela Academia de Música de Alcobaça (AMA), promovendo assim uma ligação pedagógica entre o festival e os mais de 600 alunos que estudam na escola artística de música e dança”, diz Rui Morais, presidente da Banda de Alcobaça e co-director artístico do evento, juntamente com Alexandre Delgado.
No dia 8, a actriz Dalila do Carmo, narrará as Memórias de um Burro, da Condessa de Ségur com o pianista Daniel Cunha e música de Paul Ladmirault.
Homenagem a compositores
O centenário da morte de Debussy e de António Fragoso e os 150 anos do nascimento de Vianna da Motta serão assinalados, no dia 21, num recital do pianista russo Alexander Ghindin, num concerto de trios com piano pelo Trio Pangea e num recital da soprano Filipa Portela e do pianista Stefano Amitrano.
O património musical português também será celebrado com a ópera joco-séria Guerras de Alecrim e Mangerona (1737), de António José da Silva (o Judeu) e António Teixeira, interpretada pelos Músicos do Tejo e pelas SA Marionetas, numa encenação de Carlos Antunes.
Já Requiem de Frei Manuel Cardoso, uma das obras da polifonia portuguesa, será cantado pelo Grupo Vocal Olisipo num concerto que inclui poesia declamada por Ana Zanatti e a estreia de uma obra encomendada a Tiago Derriça.
Daniel Bernardes, autor da banda sonora do filme Peregrinação, apresentará uma peça sua dedicada a Messiaen. Haverá ainda dança com a companhia de dança Quorum Ballet, acompanhada pela Orquestra Filarmónica Portuguesa, a interpretar o bailado A Sagração da Primavera, de Stravinsky, e, ao nível da dança contemporânea, estão programadas três estreias: uma por Cristina Planas Leitão, outra pela companhia Vórtice Dance, que, a encerrar o festival fará uma homenagem ao mito de Pedro e Inês, com coreografia de Fernando Duarte.
Rui Morais, presidente da BA
"Imagem de marca de Portugal"
A nova imagem do Cistermúsica está mais ligada à ideia de identidade e património. Depois do quarto de século, houve necessidade de mudar?
Utilizávamos o mesmo logótipo desde 2012 e entendemos que esta seria a edição adequada para refrescar a imagem, introduzindo um novo conceito de comunicação que se reflectiu não apenas num novo logótipo, onde o desenho do lettering foi criado de raiz, mas também na associação de um símbolo – a rosácea do Mosteiro de Alcobaça estilizada -, que, no seu conjunto, simbolizam de forma eficaz a ligação do festival ao mosteiro e à região. A nova marca, visualmente mais arrojada, apela a um público mais jovem.
Com concertos, bailados e apresentações artísticas fora de Alcobaça, assistimos a uma descentralização do festival?
O Cistermúsica 2018 apresentará perto de 40 propostas artísticas não só em Alcobaça, mas também na região e nos outros pontos do País. A aposta na descentralização do festival não é uma novidade, mas a continuação de um objectivo prosseguido há vários anos, quer dentro do concelho de Alcobaça, com concertos previstos para Cós (mosteiro), Benedita, Pataias e São Martinho, quer na região, com um concerto no Teatro Stephens (Marinha Grande), parceiro já habitual do festival. Ao nível da região é ainda possível que se confirmem mais concertos noutros concelhos com os quais estamos a dialogar. De salientar ainda a programação Rota de Cister, que levará alguns dos agrupamentos aos mosteiros cistercienses de Arouca, Évora, Penacova e São Pedro do Sul.
Sente que o Cistermúsica é uma imagem de marca do Oeste? De onde vêm os espectadores?
Diria, sem falsa modéstia, que mais do que uma imagem de marca do Oeste, é já uma imagem de marca de Portugal. Trata-se não só do maior festival de música clássica que se realiza em Portugal, mas principalmente, é aquele onde, além de apresentar alguns dos mais conceituados músicos e agrupamentos da cena nacional e internacional, promove de forma regular e sustentada o património musical português e a divulgação dos jovens valores, só para dar dois exemplos que fazem dele um evento único. A somar a estas características não nos esqueçamos que o Cistermúsica é um dos festivais que melhor conjuga a arte com o património, ao realizar a maioria da sua programação no Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, que é Património Mundial da Unesco.