Sociedade
Proposta a classificação da “Criança do Lapedo” como Património da Humanidade
Ideia terá de ser encarada como “um projecto nacional como foi [as gravuras de] Foz Coa"
O esqueleto da “Criança do Lapedo” e o vale do Lapedo, onde foi feita a descoberta arqueológica, devem ser candidatos a Património da Humanidade, propõe o grupo de projecto criado pelo Ministério da Cultura e município de Leiria.
A classificação integra o programa de interpretação e comunicação desenhado pelo grupo e que Gonçalo Cadilhe, um dos elementos, classificou como “uma revolução”.
“É extremamente original - desculpem a falta de modéstia - mas são propostas que vão mexer com a cidade toda. E se esta cidade quiser, em grupo, atirar-se a essa revolução, penso que o final será feliz”, anunciou ontem, dia 16, no Museu de Leiria, o escritor de viagens, antes de resumir a proposta em três pontos.
Um deles é a candidatura a Património da Humanidade do esqueleto e do lugar onde foi encontrado, o vale do Lapedo, na freguesia de Santa Eufémia, a 10 quilómetros de Leiria.
“Será a forma de celebrar um facto único, entre aqueles que nós conhecemos”, na área da investigação da evolução humana.
A "Criança do Lapedo", com cerca de 29 mil anos, e respectivo espólio, estão classificados como Tesouro Nacional. A descoberta, feita há 25 anos, marcou a paleoantropologia internacional, dadas as características relativas a 'Neandertal' e 'homo sapiens' que o esqueleto apresenta.
Gonçalo Cadilhe especificou que “Leiria Património da Humanidade pressupõe que a ‘Criança do Lapedo’ venha a ser transferida para Leiria”, com “a construção de um museu que garanta, sem qualquer ambiguidade, que a ‘Criança do Lapedo’ [hoje depositada no Museu Nacional de Arqueologia] pode estar em Leiria”.
O plano sugere também a criação no vale do Lapedo de “um lugar de caminhada serena, espiritual”, uma proposta “de introspecção, de meditação” sobre “a história que lá se passou na pré-história” e ainda “alterar a consciência da nação, a identidade de Portugal”.
“Para que não recue apenas até ao tempo do Viriato, mas sim, muitos milénios antes”, a esse exemplo de “miscigenação e encontro de culturas” que a “Criança do Lapedo” representa.
A ambição é que os portugueses comecem “a olhar para si próprios como um povo que há 28 mil anos já tinha património da Humanidade em Leiria”, vincou.
Cadilhe pediu “um esforço comum” a Leiria para avançar com o programa:
“Se assim for, estou seguro que em poucos anos [Leiria] será o terceiro ponto mais visitado do País, a nível escolar, turístico e de viagens culturais”.
Apesar do optimismo do escritor, o presidente da Câmara de Leiria, não se comprometeu:
“Não consigo dizer quanto tempo poderá demorar [a concretizar]. Tem de caminhar sempre numa lógica financeira. É um bom investimento, mas tem de ser apoiado”, disse Gonçalo Lopes, reclamando atenção nacional para a “Criança do Lapedo”.
A classificação como Património da Humanidade “é um grande desafio” que será “revolucionário”, concorda o autarca, mas terá de ser encarado como “um projecto nacional como foi [as gravuras de] Foz Coa”.
“Não podemos voar alto e pensar que é a Câmara de Leiria que paga… Não podemos ser só nós a pensar nisso”, insistiu Gonçalo Lopes, admitindo alguma desilusão pelo “pouco entusiasmo” com que o programa foi recebido a nível das instituições do Estado.
Além de Gonçalo Cadilhe, o grupo de projecto foi liderado por António Carvalho, director do Museu Nacional de Arqueologia e representante da Direcção-Geral do Património Cultural, integrando a vereadora da Câmara de Leiria Anabela Graça, o arqueólogo João Zilhão (que liderou a primeira equipa que trabalhou no local onde foi encontrada a “Criança do Lapedo”) e a arquitecta paisagista Aurora Carapinha.