Sociedade
Projecto do multiusos de Leiria “fazia cidade e criava novas dinâmicas”
Arquitecto Pedro Cordeiro, autor da proposta para o Centro de Actividades Municipal de Leiria - vulgo pavilhão multiusos, quebra silêncio.
Fechado que está o processo do Centro de Actividades Municipal de Leiria (CAM) - vulgo pavilhão multiusos -, o arquitecto Pedro Cordeiro, autor do projecto que não vai sair do papel, quebra o silêncio. Em declarações ao JORNAL DE LEIRIA, o técnico alega que o disparar da estimativa de custos, dos 12 milhões de euros para os 24 milhões agora calculados pelo município, resulta, sobretudo, de um valor inicial “subestimado” no concurso, assim como das alterações ao programa introduzidas posteriormente pelo município, ao tempo liderado por Raul Castro.
Pedro Cordeiro explica que “o programa de concurso para o multiusos teve como base o do Altice Arena, que rondou “46 milhões de euros em 1998”. “Agora, considerou- se muito fazer por 20 milhões”, constata, recordando que, inicialmente, a câmara pretendia uma arena para eventos culturais e desporto e uma sala polivalente, mas, posteriormente, “por vontade do município”, passou a incluir uma arena para eventos e um pavilhão desportivo, para que fosse possível incorporar uma pista de atletismo indoor preparada para provas internacionais.
Essa alteração que obrigou a mexer “profundamente” na estrutura do edifício e a incluir uma porta retráctil entre a arena e o pavilhão desportivo, que custaria “cerca de 500 mil euros”.
Apesar do desfecho deste processo, Pedro Cordeiro encara com naturalidade a decisão de não avançar com o projecto, no qual estiveram envolvidas quase três dezenas de especialistas de várias áreas. “Não existe amargura. Foi um exercício espectacular, que nos permitiu aprender imenso”. Salienta ainda que, em arquitectura, “é comum fazer projectos que não acontecem”.
“Criava novas dinâmicas”
Para Pedro Cordeiro, a “maior força do projecto” residia na articulação que preconizava entre o multiusos e a restante zona desportiva e a Avenida 25 de Abril, o que “não vai acontecer” com a nova localização prevista para o pavilhão ao lado das piscinas, “em cima do rio”.
“Era um projecto que fazia cidade. Criava novas dinâmicas e fluxos pedonais na cidade e consolidava infraestruturas como os elevadores sobre o morro do castelo”, afirma.
Em defesa das suas opções, o executivo liderado por Gonçalo Lopes aponta “uma poupança de 14 a 17 milhões de euros” conseguida com a nova proposta, para a construção de um pavilhão mais pequeno (4.500 m2 face aos 11.500 do centro de actividades), com um investimento estimado entre os seis e os oito milhões de euros.
“Não se pode comparar alhos com bugalhos”, contrapõe Pedro Cordeiro, referindo, a título de exemplo, que o projecto desenvolvido pela sua equipa tinha características acústicas e de luminotécnica “diferenciadoras”, em resposta às exigências do caderno de encargos, com aprovações das várias entidades.
O arquitecto lamenta ainda que o estudo de viabilidade económica, prometido pelo actual presidente da câmara, Gonçalo Lopes, aquando da suspensão do projecto, não tenha sido concluído. "Por tudo e por todos, teria sido clarificador conhecermos o resultado do estudo de viabilidade", defende.
“O sucesso do CAM dependeria sobretudo da máquina responsável pela gestão do espaço, não da estrutura em si”, alega o técnico, que chegou a acordo com a câmara para encerrar o processo, tendo recebido no total 236 mil euros pelo trabalho desenvolvido e não os 350 mil euros previstos no concurso de ideias para os projectos do CAM.