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Poesia e outras artes numa Ronda que toma Leiria por quatro dias

22 abr 2022 10:04

Começa hoje o festival Ronda, com Maria do Rosário Pedreira, Aldina Duarte, Nuno Júdice, Vitorino, Manuel Alegre, UHF, Tozé Brito e Manuel João Vieira, entre outros

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Concerto de Vitorino, integrado na Ronda, está agendado para amanhã, sábado
Ricardo Graça

A poetisa e editora Maria do Rosário Pedreira escreveu para canções da fadista Aldina Duarte e as duas encontram- se à conversa em Leiria, esta sexta-feira, 22 de Abril, na sessão de abertura do festival de poesia Ronda. O momento agendado para as 17 horas, na livraria Arquivo, com moderação de Susana Neves, marca o arranque de quatro dias com mais de 80 iniciativas.

Programa Geral
Programa Comunitário

Em 2022, a Ronda volta ao formato presencial e também hoje, mas na Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira, às 19 horas, propõe outra conversa, com o poeta Nuno Júdice, moderada pelo poeta e antigo ministro da Cultura Luís Filipe Castro Mendes, que é o responsável pela curadoria do festival na actual edição.

No sábado, 23 de Abril, as conversas retornam à livraria Arquivo, que, com moderação de João Nazário, recebe o cantor, letrista, compositor, produtor e editor Tozé Brito, pelas 16:30 horas. Domingo, 24 de Abril, é a vez de António Carlos Cortez moderar a conversa com o poeta Manuel Alegre prevista para as 16 horas no Centro de Diálogo Intercultural de Leiria – Igreja da Misericórdia (CDIL).

Este ano, a Ronda festeja o 25 de Abril sob o mote “poesia é liberdade” e inspira-se no verso “que nem a terra nem o céu te domem”, escrito por Miguel Torga quando esteve preso na cadeia de Leiria, para dedicar duas mesas redondas às novas liberdades, que incluem os direitos das mulheres e das minorias étnicas e de género, com a participação de Gabriela do Amaral, Henrique Manuel Bento Fialho, João Melo e José Ricardo Nunes (domingo, no museu m|i|mo, às 11 horas) e de Fernando Pinto do Amaral, João Rasteiro, Lauren Mendinueta, Ozias Filho e Rosa Oliveira (segunda-feira, no Centro Cívico, às 10 horas).

A partir da palavra escrita e da palavra dita, o festival explora cruzamentos com a música, a dança e o teatro. Destaque para os concertos da marroquina Iman Kandoussi com o duo Almanswsily (sexta-feira, 21 horas, no CDIL), Vitorino (sábado, 18 horas, no Teatro Miguel Franco), Poetry Ensemble (19:30 horas, na livraria Arquivo), Quarteto do Rio com a Orquestra Filarmonia das Beiras, a encerrar o Festival Música em Leiria (21:30 horas, no Teatro José Lúcio da Silva), Manuel João Vieira (domingo, 23 horas, no Centro Cívico) e UHF (segunda-feira, 21:30 horas, no Teatro José Lúcio da Silva, com o espectáculo A Herança do Andarilho, sobre a obra de José Afonso), além do recital de canções de Fernando Lopes Graça por Nuno Vieira de Almeida, Cátia Moreso e Ricardo Panela (domingo, 18:30 horas no Teatro Miguel Franco) e do espectáculo de dança A Nova Bailarina, de Aldara Bizarro (21:30 horas, no Teatro José Lúcio da Silva).

Além de leituras, conversas, debates, apresentações de livros, lançamentos, oficinas e poetry slam, entre 22 e 25 de Abril há poesia nas ruas, nas esplanadas, na prisão, no hospital, nos lares de idosos, nas escolas e jardins de infância, no Lar de Santa Isabel para menores institucionalizados, nas lojas, num parque de merendas e no mercado municipal.

Já se destaca e muito dos outros festivais de poesia que há no País”, considera Luís Filipe Castro Mendes, para quem a “ocupação de uma cidade pela poesia”, como sucede em Leiria, produz “uma grande celebração” e “uma iniciativa que é única”.

No mote da Ronda - “poesia é liberdade” - encontra-se também a guerra da Ucrânia e uma actualidade em mutação. “A liberdade é a paz, a paz é a liberdade e nós hoje assistimos de facto a um atentado contra a paz e contra a liberdade e a esse atentado nós respondemos com a palavra da poesia que é aquilo que a poesia pode fazer, é afirmar a liberdade contra todas as opressões”, conclui Luís Castro Mendes, que assume a curadoria do evento, organizado pelo Município de Leiria e pela Leiria Cidade Criativa da Música em parceria com a livraria Arquivo, e contando com o poeta e psicólogo Paulo José Costa, dinamizador desde a primeira edição.

Está prevista, no Pavilhão Mozart do Estabelecimento Prisional de Leiria – Jovens, uma maratona de poesia, a acompanhar pela SAMP – Sociedade Artística Musical dos Pousos, com declamação por reclusos, funcionários e guardas, desafiados a compor poemas.

Já no Centro Hospitalar de Leiria, os médicos e psicólogos da consulta de pediatria e pedopsiquiatria vão prescrever poemas às crianças e jovens, na forma de origami, avião de papel, chapéu ou barco.

Com o objectivo de chegar mais perto do público, mas, ao mesmo tempo, de chegar a todos os públicos, a iniciativa Aqui ronda o meu poema permite a qualquer pessoa participar com escrita, desenho ou expressão livre de poemas em escolas, instituições e espaços da cidade.

Pela primeira vez, o Politécnico de Leiria associa-se à Ronda: estudantes asiáticos e africanos vão ler poemas em língua portuguesa. E o projecto Casa da Árvore propõe envolver as crianças num flash mob com declamação, dramatização, dança contemporânea, tai-chi e música.

Destaque, ainda, para a apresentação do disco Alepo e Outros Silêncios, de Luís Tinoco, com a presença de Rui Vieira Nery, o espectáculo do colectivo de poetas Luz Clandestina com a companhia de dança Corpo (que inclui bailarinos com e sem deficiência) e a sessão de leitura de poemas pelo actor e declamador David Teles em homenagem a José Vaz, poeta, actor e declamador falecido recentemente.

Na apresentação da Ronda, a 8 de Abril, no Centro Cívico, a vereadora Anabela Graça realçou “a matriz comunitária” do festival, que pretende “promover a inclusão” e enviar uma mensagem de esperança “aos mais vulneráveis”, com a convicção que “a poesia é construtora de paz”.

Pela Arquivo, João Nazário considerou que o evento está em condições de “trazer mais público de fora” e louvou “a coragem” de Leiria por “não seguir o caminho mais fácil”, ao apostar na poesia, “um investimento que vai surtir efeito no médio prazo”, acredita.

Já o mentor da Ronda, Paulo José Costa, lembrou que cada edição foi “sempre assumindo uma dimensão mais expressiva”, num crescimento ancorado na ideia de que “a poesia é de todos e para todos” e que em Leiria existe “um ADN” que protege contra “a contrafacção” na cultura.

O novo director artístico da Leiria Cidade Criativa da Música, Daniel Bernardes, salientou “o ecletismo musical” do programa, que vai da música clássica ao rock.

Rita Taborda Duarte e João Paulo Esteves da Silva são outros nomes anunciados pela Ronda, que, de outras nacionalidades, traz o peruano radicado em Espanha Alfredo Pérez Alencart, a apresentar pela primeira vez em Portugal dois livros, Gabriela do Amaral e Ozias Filho (do Brasil), João Melo (de Angola) e Lauren Mendinueta (da Colômbia).

Segundo Anabela Graça, o orçamento é de 40 mil euros.