Viver
Palavra de Honra - Jorge Dias, poeta, DJ e gerente de bar.
"Ninguém tem tempo para ter paciência"
Já não há paciência... para a falta de paciência. Temos de ter as pessoas ligadas à corrente, como os meninos que têm jogos nos telemóveis, para não chatearem os pais. Temos de instalar luzes elevadas à potência da super festa porque o ruído tem de ser mantido em surdina e com uma factura nas dezenas de milhares de euros. Ninguém tem tempo para ter paciência.
Detesto... hipocrisia. Principalmente à descarada porque os outros não buscam saber a verdade dos factos. Detesto ditadores mas ainda mais aqueles que se fazem passar por eles para captar aquela franja de, por exemplo, netos de salazaristas que, nem sequer votavam ou comentavam política em redes sociais anteriormente. Detesto farsolas.
A ideia... precede a acção. A idiotice também mas felizmente só tem ficado pelas redes sociais. Tenho ideia que muitos falam, cheios de ideias, que até sabem dos mais variados assuntos (mais até que os próprios entendidos) e na hora, na boca das urnas, só de boca.
Questiono-me... se tudo isto de nos importarmos, se leva a algum lado. Questiono-me se isso do alarmismo é só uma cena da comunicação social para alimentar agendas políticas e se aquelas imagens e notícias que vêm logo a seguir são a nossa ida à lua num cenário rebuscadamente montado para nem sequer nos questionarmos. Ah... dúvidas cósmicas!
Adoro... a paz. Quase tanto como a procrastinação. E se as duas namorassem comigo eu também não me importava. Por vezes juntamo-nos os 3 e a coisa dá-se... mas para relações sérias está complicado para todos neste momento. Adoro poder ter tempo e um planeta para um dia poder desfrutar dele, respirando por exemplo.
Lembro-me tantas vezes... de ter Verões em Portugal. Aquele sentimento de que ali a partir de maio já fazia calor e que ainda vinha aí mais. Lembro-me de piqueniques na mata de Leiria, dos outros, e de poder viajar de bina por ali com aquela maldita sombra de cortar o braseiro que um tipo ia a sofrer. Adoro sobretudo de ter saudades de coisas que realmente me causavam desconforto. O desconforto de agora é só parvo.
Desejo secretamente... que Deus afinal exista e me conte a punch line para esta piada sem piada nenhuma que se vive agora. Se não for um deus que venha aí umaonda de calor ou quiça uma rabanada de "ventobalázio" que leve a olho aqueles tipos que mandam em países que não assinam/cumprem protocolos ambientais, que espalham a intolerância, que colocam armas nas mãos de crianças... enfim, que haja algo mesmo com piada.
Tenho saudades... de ser criança e brincar livremente sem qualquer preocupação qualquer apesar de já, na altura, notar alguma mediocridade humana através da tv. Tenho saudades de brincar horas a fio na aldeia e perder-me nas matas descobrir que as urtigas faziam menos do que o prazer todo que era ser livre, de brincar por lá. Basicamente sou pouco saudosista de tudo o resto. Só consigo olhar em frente.
O medo que tive... de um dia poder ter sido convencional. Igual aos demais. O medo que perdi de ser diferente. Perder o medo. Deixar o medo para a morte e mesmo essa, infelizmente, ser objecto de exercícios diários. Medo de deixar de ter medo por haver tantos life coaches a cada scroll que vão viver para sempre e terem a resposta certa. Eu continuo baralhado, mas felizmente sem medo quanto a isso.
Sinto vergonha alheia... quando se emprega incorrectamente um "à" "há" "á" ou mesmo um "hades" ou o seu plural "hadem". Principalmente sinto porque também já cometi os mesmos erros há muito tempo, ou seja, auto-vergonha alheia. Já agora, "vergonha alheia" é a versão vegan de vergonha alheira? Não sei...
O futuro... é como no Star Trek. Pelo menos aí a ideia de futuro não tinha um planeta Terra morto para trás. Era a busca de conhecimento, de descobrir lugares onde nenhum outro homem tivesse já estado, mesmo que esses lugares sejam no nosso mais profundo ser. Que a arte, música, poesia e outras manifestações sejam a fé se Deus não vier contar aquela piada. O futuro é a Cristina Ferreira a presidente. Agora pensem.
Se eu encontrar... a chave do euromilhões não me servirá de nada. Não costumo investir em jogos de sorte e azar. Mas se encontrasse a amiga Olga pedia-lhe para gritar "a chave, a chave!" e deixar o cosmos resolver as coisas a partir daí.Este sistema de trocas que descobrimos com moeda está a daflagrar. Era melhor ter aproveitado as horas de exposição televisiva e ter candidatado a amiga Olga a presidente. Ela é que era dos afectos. Se isto não é silly season então não sei mais o que posso fazer.