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Ópera em Óbidos. “O único festival que descentraliza esta forma de arte no país”
A programação viaja das primeiras décadas do século XX até aos nossos dias com uma mensagem humanista e de tolerância

Todos nascem e permanecem livres e iguais em direitos. O ideal com raízes na revolução francesa de 1789 inspira o Festival de Ópera de Óbidos, que este ano reivindica princípios de liberdade, igualdade e tolerância.
“Vivemos num mundo em convulsão e temos de estar atentos para que não haja retrocesso”, comenta a directora artística do FOO, Carla Caramujo. A programação viaja das primeiras décadas do século XX até aos nossos dias e contém uma “mensagem humanista” que, segundo a soprano várias vezes premiada em Portugal e no estrangeiro, procura suscitar comportamentos “mais acolhedores”.
É já neste sábado, 6 de Setembro, que acontece o concerto inaugural, no Parque Tecnológico de Óbidos, com a Gala Bizet, que assinala 150 anos da morte do compositor francês. Inclui excertos da última obra que escreveu, Carmen, e de outras duas óperas, além da Ode Sinfónica Vasco da Gama, sobre o navegador português que morreu há 500 anos (1468 – 24 de Dezembo de 1524).
Depois do recital de jovens talentos marcado para 11 de Setembro, o festival ocupa o Convento de São Miguel, nas Gaeiras, durante o fim-de-semana de 13 e 14 de Setembro, e vai apresentar, em double bill, o espectáculo para crianças A Menina, o Caçador e o Lobo, com música de Vasco Mendonça e libreto de Gonçalo M. Tavares, e ainda, cem anos após a estreia, L’Enfant et les Sortilèges, de Ravel, nos 150 anos do seu nascimento. Em ambos os casos, lembra Carla Caramujo, a temática “alude ao respeito pelo próximo”.
A estreia em Portugal de Café Europa (exclusiva para escolas, 17 de Setembro, de Christoph Renhart com libreto de Alexandre Honrado) aborda o drama dos refugiados e antecede o encerramento da terceira edição do FOO, novamente no Convento de São Miguel, dias 20 e 21 de Setembro, noutro programa de dose dupla que celebra a emancipação feminina com Il Segreto di Susanna, de Wolf-Ferrari, e o bailado El Amor Brujo, de Manuel de Falla, apresentado pela primeira vez há 100 anos.
“A preocupação na escolha dos elencos” considerou o objectivo de ter “várias gerações representadas”, explica a director artística, que destaca a presença do belga Logan Lopez Gonzalez, “um grande contratenor europeu”, e de João Fernandes, “o maior baixo português com carreira internacional”.
Referência, ainda, para “dois encenadores com muita experiência”: Max Hoehn e André Heller-Lopes.
Protagonizado por artistas emergentes e outros consagrados internacionalmente, o FOO “é o único festival de ópera que descentraliza esta forma de arte no país”, aponta Carla Caramujo. Organizado pela Associação Banda de Alcobaça em parceria com o município de Óbidos, em 2025 também evoca Camões e Almada Negreiros.