Viver

“ Olá, eu sou o Ninja e sou viciado em videojogos.”

5 mai 2016 00:00

Ninjas e Princesas

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Bem sei que vocês sete, que lêem estes tutoriais semanalmente como uma dona de casa desesperada a tentar preencher o vazio de um casamento moribundo no consultório íntimo da TV Gente, vêem em nós uma luz para atravessar as agruras e alegrias da parentalidade em segurança, um ombro, um sorriso, uma palavra, e um chorrilho de incongruências capaz de vos amparar em qualquer cólica da vida.

E, embora nos julguem detentores de uma sapiência imaculada, daquelas que ficam lindamente num retrato familiar mesmo durante um cataclismo de ranho e birras, chegou a hora de nos atirarmos de cabeça para fora do pedestal onde meia dúzia de crónicas, cheias de ilusões, histórias duvidosas e desejos disfarçados de factos nos colocaram. Sim, nós não sabemos muito bem o que é que andamos aqui a fazer. Sim, percorremos o caminho sob um manto de incertezas.

E pior, de vez em quando andamos com ele nos olhos, sujeitos a bater com a cabeça e deixar a dentição num dos milhares de pormenores inerente à missão de levar os filhos a bom porto. Esta lenga lenga para vos dizer que estou a pensar em inscrever o ninja cá de casa numa instituição de reabilitação para dependentes. É verdade, o raio do garoto está agarrado ao inebriante mundo dos tablets, também conhecido na gíria como aquele momento de sossego para pais à beira de um ataque.

Mas, caraças, quem é que não anda com a cabeça enfiada num dispositivo inteligente hoje em dia?! Ouvi dizer que não podemos parar o progresso, adaptemo-nos. Nós deixamos o puto jogar, joga praticamente todos os dias, com restrições de tempo e de conteúdos mas joga. Fazemos bem? Fazemos mal? Ainda não percebi. São várias as coisas as coisas que me preocupam, a principal é o facto de levar coça de um puto de três anos em vários jogos.

Como é que é possível? A outra é o desconhecido, a inexistência de estudos relacionados com os hábitos de consumo nas gerações anteriores, visto que a dos meus filhos é a primeira a nascer com a motricidade fina dos dedinhos desenvolvida a níveis estratosféricos (só isso pode explicar as cabazadas que levo) e todo o desconhecido que resultará daí quando chegarem a adultos.

Esperamos que não se tornem uns gimbrinhas, demasiado virtuais e com um défice de habilidade social passível de os encaminhar a um trucidamento pela realidade. Até à data, por sorte, o método tem corrido bem. O puto consome a dose diária, joga uma horinha e já não faz birras quando acaba o tempo porque senão não joga no dia seguinte. É um miúdo normal e até sabe parar uma bola com um pé e chutar com o outro, mais ou menos.

De vez em quando damos-lhe uma dose extra, quando percebemos que o sítio onde estamos não tem o mínimo de interesse para ele, sempre com peso e medida. Como tudo o que diz respeito a eles, o bom senso, o equilíbrio e o exemplo dos pais parece ser a chave para correr tudo bem.

Portanto, desliguem os vossos dispositivos, saiam dos vossos stresses e vão passear ou brincar com os vossos filhos, parece que isso também é viciante. Bom, eu tenho de desligar, já tenho a mais nova a arregalar as pálpebras para o ecrã.

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