Viver
O trabalhador dos fornos de cal que se fez motivado investigador
Joaquim Ribeiro: Em busca da árvore genealógica já identificou quase 1400 familiares
Nasceu a 7 de Outubro de 1931 ao lado da Igreja de Pataias. E não foi muito longe dali, nessa mesma localidade, que fomos encontrar Joaquim. “Sou Joaquim Filipe e, não sendo marinheiro, sou Marujo, e não sabendo nadar, também sou Ribeiro”, graceja o ilustre entrevistado. Joaquim Ribeiro é filho de dois cunhados.
“O homem da minha mãe faleceu em 1918, e a mulher do meu pai faleceu em 1919, de pneumónica. De modo que, após a morte dos dois irmãos, os dois cunhados juntaram os trapinhos”, explica Joaquim. A sua mãe já tinha um filho do primeiro casamento e veio a ter mais seis crianças fruto da segunda relação.
“Criar tantos filhos não foi fácil. Toda a gente tinha de trabalhar”, recorda Joaquim. O seu pai tinha um forno de cal e também trabalhava na agricultura. “A certa altura chegou a ter três juntas de bois e dois burros”, lembra Joaquim. Ainda andava na escola e já pelas férias ia para as fazendas ajudar os pais.
Teria cerca de sete anos. “Cheguei a enfiar os pés em trapos para não me magoar a trabalhar. Só tive os meus primeiros sapatos quando fui para a escola”, recorda Joaquim, que não foi além da quarta classe. “Há quem diga que os fornos de cal desta região são do início do século XIX, mas quase garanto que não.
Por volta de 1950, havia um senhor que tinha uma cerâmica em Pataias e que comprou uma pequena retroescavadora. Quando estava a trabalhar encontrou um buraco, com resíduos de cal, e nessa altura, mesmo as pessoas mais antigas, com 90 e quase 100 anos, não se lembravam da existência daquele forno.
Portanto, não há memória de se ter começado a produzir cal em Pataias”, conclui Joaquim, cujo pai, avô e bisavô sempre laboraram naquele ofício. Joaquim deixou de produzir cal em 1989 e essa actividade também não se manteve por muito mais tempo. O último forno em laboração parou no início dos anos 90.
Ao mesmo tempo que se dedicava à cal, Joaquim nunca deixou de se envolver na agricultura. Pelo meio foi ainda motorista de pesados, que faziam o transporte de madeiras por conta de uma serração.
Entre 1987 e 1999 trabalhou também na produção de baguinhos de chumbo que vendia a fabricantes de cartuchos para caça. Ficou com o negócio de um conterrâneo, mas, com a sua visão e engenho, começou a modificar as máquinas, o que lhe permitiu começar a fabricar mais e melhor. Mesmo depois de se aposentar continuou a trabalhar.
Dedica-se há cerca de 30 anos à avaliação de terrenos e de casas. E, mais recentemente, porque se achou com um pouco mais de vagar, entusiasmou-se com a investigação da sua árvore genealógica e já identificou quase 1400 parentes.
O grande impulso à sua veia historiadora chegou dia 24 de Dezembro do ano passado com a aparição de um computador portátil que o introduziu ao fabuloso mundo da internet. Além das pesquisas na Igreja de Pataias e no Arquivo Distrital de Leiria, hoje à beira dos 85 anos, Joaquim descobriu novas ferramentas de trabalho, como a troca de mensagens via email ou a pesquisa rápida no Google.
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