Viver
O leitor é descendente de D. Afonso Henriques
Estórias da nossa História por Ricardo Charters d’Azevedo
O leitor que me lê é meu primo. Estará espantado? Não esteja, pois vou explicar a seguir como descendemos, os dois, em linha direta, da D. Afonso Henriques.
Somos pelo menos primos em 34º grau! Claro que temos como nosso avô Carlos Magno ou o profeta Maomé. Ou ainda Nefertiti ou Confúcio são nossos avozinhos. Então tenho sangue azul, pensará o leitor. Sim, mas todos o temos, pois trata-se de uma inevitabilidade matemática. Se D. Afonso Henrique o tinha, nós o temos, igualmente.
Mas, caro leitor, não fique orgulhoso da sua descendência, pois além de D. Afonso Henriques descenderá igualmente de todos os miseráveis servos da gleba do século XII. Julgo que já não estará tão orgulhoso.
Qualquer europeu vivo é descendente direto de Carlos Magno, Clóvis ou mesmo Maomé. Como também é de qualquer outro europeu à data daqueles, cuja descendência se não tenha extinguido. Antes que o leitor abandone a leitura deste meu texto, explico. Ora a razão matemática de fundo que explica as minhas afirmações anteriores é muito simples e básica: trata-se do crescimento exponencial do número de ascendentes.
Comecemos por uma observação indiscutível. Eu, e o leitor, temos um pai e uma mãe, isto é dois ascendentes de primeira geração. Significa isto portanto que temos quatro avós, oito bisavós, etc. Em geral, cada um de nós possui 2 elevado a n, ascendentes de geração n.
Vamos então calcular a ascendência do leitor considerando, para simplificar, que uma geração demora em média 25 anos. Assim o leitor terá 2 10 = 1024 ascendentes de 10ª geração, que viveram há 250 anos. Na 20ª geração, que corresponde ao descobrimento do Brasil, o leitor terá mais de um milhão de ascendentes (220 = 1.048.576). E terá mais de mil milhões de ascendentes de 30ª geração.
No tempo de D. Afonso Henriques, digamos 1143, que corresponderá á 34ª geração, a árvore genealógica do leitor tem nessa altura 234 ascendentes, i. e., mais de 17 mil milhões de pessoas ou seja quase o triplo da atual população da Terra e superior ao número de seres humanos que já passaram pela Terra desde o aparecimento do Homo Sapiens! Donde, caro leitor, a sua árvore genealógica não é uma árvore, mas um novelo.
As linhas de ascendentes do leitor até aos seus ascendentes de 34ª geração tem de se auto intersectar, porque muitas das 17 mil milhões de pessoas vão coincidir, vão ser as mesmas. Portugal teria qualquer coisa como 1 a 2 milhões de habitantes no tempo de D. Afonso Henriques, pelo que neste caso as auto inserções “enrolam” as árvores de ascendentes com coalescências de um fator de 1000 na 34ª geração.
Leia mais na edição impressa ou torne-se assinante para aceder à versão digital integral deste artigo