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Nos últimos dias do Ronda, Leiria segue pelo mundo
Festival de poesia continua online até domingo com Ida Vitale, Jack Hirschmann e José Luís Peixoto, entre outros
Como um poema escrito a várias mãos e em diferentes línguas, o Ronda avança para os últimos quatros dias, a circular de continente em continente, com as palavras da uruguaia Ida Vitale, da canadiana Anne Michaels, da nicaraguense Gioconda Belli e dos norte- americanos Jack Hirschmann e Reginald Dwayne Betts, entre outros autores, em que se incluem os portugueses José Luís Peixoto, Hélder Macedo, João de Melo, Matilde Campilho e Paulo José Miranda.
Muito para ver e ouvir, sempre online, no festival que Leiria quer afirmar como referência para a poesia em Portugal – e que em 2021 transforma o dever de confinamento causado pela pandemia numa oportunidade para, através do digital, alargar horizontes e tecer um conjunto de propostas com 200 convidados de 40 países, que se cruzam com a música, a performance, a dança, o teatro, o cinema, a pintura e as artes multimédia.
A programação está disponível em leiriapoetryfestival.com e pode ser acompanhada no site e redes sociais do festival, na página Leiria Cultura e através de vários parceiros, no Facebook, como é o caso da livraria Arquivo, que faz parte da organização.
Hoje, quinta-feira, arranca pelas 15 horas com a exibição do filme Rondó, de Luís Marques da Cruz, sobressaindo, três horas mais tarde, a conversa com José Luís Peixoto, entrevistado por Susana Neves sobre o tema “Os poetas, esses filósofos sem sistema”.
Logo a seguir, às 19 horas, Gioconda Belli no “Álbum poético da América Central” com Vania Vargas e Jorge Martínez Mejía.
Amanhã, dia 19, participações de Anne Michaels e Matilde Campilho, mas o destaque é a entrevista a Ida Vitale, poeta, ensaísta, crítica literária e tradutora, actualmente com 97 anos, um dos nomes mais importantes da língua espanhola, que ao longo da carreira recebeu inúmeros prémios internacionais, incluindo o Prémio Cervantes 2018.
Esta sexta-feira fica marcada também pelo lançamento do primeiro número da Acanto, uma revista trimestral de poesia, editada em Leiria, que apresenta inéditos de autores publicados e não publicados, com poemas de Carlos André, José Guardado Moreira e Graça Pires, entre outros, explica o poeta Paulo José Costa, mentor e co-organizador do Ronda desde a primeira hora, em 2015, que faz uma apreciação “francamente positiva” dos primeiros dias da edição de 2021, com “o mundo a respirar” e “a poesia a ser um antídoto para a pandemia”.
Também Celeste Afonso, coordenadora do Ronda, realça a dimensão alcançada pelo festival, que revela Leiria em países com os quais o contacto é menos frequente, como a Turquia, a Colômbia ou a Jamaica, entre outros. “De facto, chegámos muito longe”, afirma, segura do impacto desde a abertura oficial, a 12 de Março. “O que se pode ver é uma satisfação muito grande com a qualidade do programa. Está a ser, se calhar, o aspecto mais referido”.
“A grande vontade de vir a Leiria” manifestada por “todas as pessoas que estão a participar online” é outro dos efeitos produzidos pelo Ronda, segundo Celeste Afonso, para quem o sucesso nas redes sociais e a ampla cobertura mediática resultam, também, da estratégia adoptada este ano, em que “a grande novidade” é uma comunicação focada nos meios nacionais, mas, ao mesmo tempo, nos parceiros locais, incluindo rádios, jornais e a Rede das Cidades Criativas da Unesco, de que Leiria faz parte.
No sábado, a agenda é rica e diversa, com o poeta da geração beat Jack Hirschmann, a japonesa Yoko Tawada e os portugueses João de Melo, José Anjos, Paulo José Miranda e Hélder Macedo (que exerceu o cargo de secretário de Estado da Cultura e deu aulas em Harvard e no King's College, em Londres, entre outras universidades de topo).
O teatro do Leirena, a partir de textos de José Saramago, surge às 22 horas, uma hora depois é a vez de António Cova e Cabrita juntos nas palavras de Adília Lopes.
Domingo, último dia, traz o autor norte-americano e antigo recluso Reginald Dwayne Betts, preso aos 16 anos por carjacking e condenado a oito anos de cadeia, onde descobriu a vocação, e um concerto de Rita Red Shoes através da obra de Alexandre O'Neill e Francisco Rodrigues Lobo, poeta de Leiria que morreu há 400 anos.