Desporto
Não é para ser bonito, é para ser eficaz
No krav maga, cerca de 90% dos golpes são nos genitais, porque vale tudo quando é necessário salvar a pele. Como prevenção ou em resposta a alguma agressão, são as mulheres que mais praticam.
Gil Ferreira é um pai típico. Orgulhoso da sua prole, preocupa-se com as suas meninas e não quer que nada lhes aconteça. Filipa, a mais velha, estuda em Londres, uma circunstância que, nos dias que correm, não o deixa tranquilo.
Confrontado com a hipótese, por mais remota que seja, de um atentado, de um assalto ou de uma agressão, resolveu “impor uma valência” e meteu a família no krav maga.
“Já apanhei alguns sustos e até já levei alguns tabefes, principalmente quando era militar, mas o medo de haver mais alguma coisa, de ser assaltado, nunca me perseguiu muito. O que me perseguiu, admito, foi pensar que as minhas filhas pudessem vir a precisar de alguma coisa e não saberem como se defender”, explica o vidreiro da Marinha Grande.
Encontramo-lo no treino de terça-feira à noite, na Touria, nos Pousos. A maioria são mulheres. O grupo é pequeno, quase familiar, e todos encaram esta actividade física com motivação, mas de sorriso nos lábios.
Entre golpes falhados e defesas bem aplicadas, a boa disposição é permanente. Preocupado em tornar a preparação vigorosa, mas em ambiente descontraído, Xavier Silva é firme quase sempre e condescendente às vezes.
É uma figura incontornável do basquetebol regional e não serão tantos os que têm conhecimento desta vertente ligada à luta. Mas a verdade é que a primeira modalidade que praticou, ainda em Moçambique, foi o boxe.
“Os empregados do meu pai chamavam-me. A minha mãe não queria, mas eles diziam: ‘senhora, menino vai precisar quando for homem’.”
Depois, passou pelo judo, ju-jitsu brasileiro, sempre em paralelo com o basquetebol. Há coisa de uma década, “farto de modalidades de combate com regras”, encontrou algo diferente, a “defesa pessoal pura”. Até hoje.
É o verdadeiro salve-se quem puder. O krav maga nasceu em Israel, nos anos 30 do século passado, para ajudar as pessoas a defenderem-se num contexto urbano de opressão.
Aqui, não há vitórias, nem derrotas. Não é arte marcial, nem sequer modalidade desportiva. “Não tem regras e destina-se a ensinar às pessoas o básico para que sejam capazes de sair de uma situação complicada”, explica o responsável.
Como preceito, o krav maga ensina a prevenção, a “evitar situações de risco”. “Há princípios que são fundamentais para preservamos a nossa segurança. Quais? Nunca voltar pelo mesmo sítio e fazer sempre trajectos diferentes, utilizar os espelhos nos levantamentos Multibanco e ter sempre uma mão disponível para, no acaso de surgir uma situação de agarro, ter forma de se defender”, diz Gil Ferreira.
Não é para ser bonito, é para ser eficaz. “É possível morder, até arrancar uma orelha. Aliás, 90% dos golpes são nos genitais. O objectivo é não morrer, é não ser violado, é não ser assaltado”, explica Xavier Silva, que responde a quem diz que uma actividade física violenta.
“Quanto vale a nossa vida? Krav maga não é heroísmo. É tentar arranjar três ou quatro segundos para nos conseguirmos
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