Sociedade
Morreu D. Francisco da Mata Mourisca, primeiro bispo do Uíje
Diocese angolana nota que o missionário oriundo do concelho de Pombal “permanecerá para sempre um evangelho vivo”
Faleceu, aos 94 anos, D. Francisco da Mata Mourisca, missionário português e primeiro bispo do Uíje, informou a agência Ecclesia.
“Vítima de doença”, segundo a diocese angolana.
“Faleceu um dos mais notáveis da Ilha!”, reagiu o deputado municipal na Assembleia Municipal de Pombal eleito pelo movimento Oeste Independentes, Luís Couto. “Alguém que ousou muito para além da sua condição de base e que teve uma grande importância na vida de milhões. Um que abraçou o mundo sem nunca deixar de pertencer a onde nasceu”.
D. Francisco Mata Mourisca, segundo a agência Ecclesia, nasceu a 12 de Outubro de 1928, em Mata Mourisca, concelho de Pombal, tendo entrado no Seminário Seráfico da Ordem dos Franciscanos Capuchinhos a 10 de outubro de 1941, onde vestiu o hábito religioso a 13 de Agosto de 1944 e emitiu os votos religiosos a 15 de Agosto do ano seguinte.
Foi ordenado sacerdote na Capela do Convento do Tronco (Porto), no dia 20 de Janeiro de 1952, por D. Policarpo da Costa Vaz, bispo auxiliar do Porto.
Em 1967, o Papa Paulo VI erigiu a Diocese de Carmona-São Salvador, no norte de Angola e “nomeou como primeiro bispo da mesma, o padre Fr. Francisco da Mata Mourisca, com apenas 39 anos de idade”, tendo a ordenação episcopal acontecido na igreja dos Capuchinhos do Amial, Porto, no dia 30 de Abril de 1967, sendo bispo sagrante o núncio apostólico, D. Maximiliano de Furstemberg.
“D. Francisco da Mata Mourisca, partiu para Angola no dia 27 de Julho de 1967 e, a 30 desse mês, tomou posse oficial da recém-criada nova diocese, hoje denominada Diocese do Uíje”, precisa uma nota do site Capuchinhos em Portugal, citada pela Ecclesia.
“Dono de uma grande inteligência patente na sua obra escrita, como por exemplo o livro escrito na década de 70 com que me cruzei na adolescência onde argumentava de forma racional e nada dogmática a existência de Deus, verdadeiro ensaio académico”, escreve Luís Couto, que lhe destaca a “ligação forte às suas origens” e a “perseverança” e “inteligência”.
“Detentor de um dom de transmitir esperança, como é notória no excerto de uma entrevista ao portal wiki-congo.com de 2016 “O povo do Uíge, em particular, e de Angola, em geral, é muito generoso. Tendo um povo assim, acredito que venha a ser um grande País, bem como uma potência, não só da região, a exemplo de algumas colónias como os Estados Unidos da América, o Brasil e a África do Sul. A independência deve reconhecer o direito ao povo, de ser ele próprio a escolher e a decidir o seu destino, quer seja na política, na educação, quer seja na vida toda”, lê-se na publicação de Luís Couto nas redes sociais.
D. Francisco da Mata Mourisca serviu a diocese durante 41 anos, tendo continuado a residir no Uíje como bispo emérito, e a “servir a Igreja em Angola”, nomeadamente na “Comissão Episcopal para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso”.
Em 2018, D. Francisco Mata Mourisca recordava à Agência Ecclesia o papel que a Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) desempenhou, em especial durante a guerra, com as “suas observações e apelos à paz”.
Na altura, no assinalar dos 50 anos da CEAST, o bispo capuchinho recordava os “tempos amargos” e a resiliência da Igreja.
“Tempos amargos e a CEAST suportou, defendeu os fiéis, foram tempos difíceis com o marxismo, mas a Igreja desempenhou o cargo de defesa dos cristãos, apelando à paz, ajudando o povo a viver santamente. À Igreja não lhe compete tratar das independências mas compete ver como se vive depois, levou o povo angolano a viver a independência de forma justa e digna, respeitando os direitos humanos e a fé cristã”, assinalava na altura o bispo emérito.
A diocese angolana também divulgou uma nota online, em que se lê: “Elevamos a nossa oração ao Senhor da vida e da morte que nos concedeu uma vida de um pastor da nossa Igreja, D. Francisco, que permanecerá para sempre um evangelho vivo”.