Economia
Mercado da saudade agita negócios da região além fronteiras
Das refeições tradicionais, passando pelo café, até aos souvenirs que remetem para a portugalidade, são vários os artigos produzidos na região que se dirigem às nossas comunidades emigrantes
Produtos regionais, mais tradicionais ou mais inovadores, destinados aos mais idosos ou aos mais jovens, desde vestuário, acessórios ou bens alimentares. Não faltam exemplos de artigos fabricados na região de Leiria e que encontram no mercado da saudade uma parte significativa dos seus clientes.
Foi há quatro anos que Bruno Carvalho, natural de Castanheira de Pera, residente em Leiria, avançou com o projecto Rodilha. Já tinha viajado e comprado souvenirs, com os quais não ficou satisfeito. Recorda-se especialmente de umas meias, que trouxe da Holanda, artigo bonito e colorido, mas feito de um material que lhe causava desconforto. Em Portugal, também não encontrava nada do género que pudesse enviar a amigos estrangeiros.
Assim surgia a ideia, ainda em 2019, de “criar um souvenir com piada e de qualidade”. Em 2020, quando já tinha avançado com o design e o fabrico de meias com motivos que remetiam para a portugalidade, surge a pandemia. “Vi-me com pilhas de meias até ao sótão”, numa fase em que o emprego num novo projecto profissional, na área dos moldes, também não avançou, recorda Bruno Carvalho.
Foi neste contexto que passou a explorar as vendas online deste produto, que teve boa aceitação. Depois das meias, a marca Rodilha passou a integrar também bonés decorados com padrões que remetem para azulejos ou para o icónico galo de Barcelos e outros motivos mais minimalistas. Presentemente, os artigos estão também a ser vendidos em lojas portuguesas de souvenirs, bem como no Canadá, na Bélgica e na Alemanha, no mercado da saudade e além dele.
Talvez ainda este ano devam ser lançadas as t-shirts e, mais tarde, a ideia é avançar com as mochilas, conta Bruno Carvalho.
Com sede em Leiria, o Rei dos Frangos deu início à exportação em 2010, com o lançamento da Frangus, a sua gama de congelados. Começou com uma inovação, que é também um best seller, o original frango assado na brasa ultracongelado, com molho piri-piri, de limão ou laranja. E desde aquela que foi a primeira encomenda para fora de Portugal, na cidade de Colónia, na Alemanha, até hoje, foram-se multiplicando os produtos disponíveis – o portefólio inclui agora cerca de 20 pratos distintos – e o mercado da saudade passou a representar cerca de 75% destas vendas.
França, Suíça, Alemanha e Reino Unido estão entre os principais destinos, que têm nos supermercados portugueses os maiores pontos de venda.
“Acabámos de lançar o frango na brasa extra-picante e iremos lançar a delícia de bacalhau com broa”, antecipa o gerente, João Santos. Mas o objectivo não é ampliar muito o menu. É continuar a apostar na qualidade e na melhor relação qualidade-preço, enfatiza o responsável.
Em Ourém, a Caxamar, que se dedica ao comércio e à indústria de bacalhau, também tem no mercado da saudade uma parte expressiva do seu negócio. A comunidade portuguesa residente em França, Alemanha, Suíça e Luxemburgo é grande consumidora deste produto e mantém essa tradição viva durante todo o ano, com maior incremento durante a quadra natalícia, nota João Feteira, director comercial da Caxamar.
E não são apenas as gerações mais velhas as apreciadoras de bacalhau. Prova disso mesmo é o aumento significativo das vendas de bacalhau demolhado ultracongelado, cuja practicidade cativa público mais jovem, a partir dos 30 anos, nota João Feteira. Para chegar até ao consumidor final, a Caxamar recorre aos seus parceiros, nesses países, geralmente distribuidores locais portugueses, que por sua vez fornecem o sector do retalho, hotéis, restaurantes e cafés.
Na Cafés Paraíso do Liz, Alcogulhe, no concelho de Leiria, o negócio remonta há mais de seis décadas. A empresa dedica-se à torrefação, transformação, embalagem e venda de café na região de Leiria, sendo que, pelo resto do País, é comercializado através de agentes. Uma fatia da sua exportação também segue para as comunidades portuguesas emigradas, refere o gerente, Hugo Ferreira.
Beijinhos de Pombal para o resto do mundo
Quando o bisavô de Vilma Vale deu início à sua actividade, em 1948, estaria longe de saber o sucesso que os seus produtos viriam a ter junto dos emigrantes. Os beijinhos de Pombal, produto icónico da Confeitaria Vale, “surgiram pela mão do meu bisavó e começaram por ser uma maneira de ocupar o espaço deixado nos tabuleiros de cavacas”, conta Vilma Vale, actual gerente do estabelecimento.
Com o tempo, os beijinhos começaram a ter até maior solicitação do que as cavacas de Pombal, salienta. Mais recentemente, outros artigos vieram a juntar-se à lista da confeitaria, como os bolos da avó, o bolo-rei e uma variada gama de biscoitos. Mas os beijinhos de Pombal são aqueles que maior sucesso fazem em vários pontos do mundo. França, Inglaterra, Holanda, Alemanha, Suíça, Irlanda do Norte, Estados Unidos, Canadá e Angola consomem cerca de metade da produção desta confeitaria.
“Vendemos para as comunidades emigrantes e também para outras empresas que provaram, gostaram e passaram a vender os nossos produtos”, refere a gerente. Só em 2023, a Confeitaria Vale comercializou 500 mil pacotes de beijinhos e cavacas de Pombal, cerca de metade dos quais no mercado externo.
A norte do distrito de Leiria, a Queijaria Prado da Sicó, de Ansião, tem clientes regulares entre a comunidade emigrante na Suíça, França e Luxemburgo.
“Encaminhamos pelo menos uma encomenda semanal de cerca de 400 queijos”, conta Fátima Carvalho, sócia-gerente. Os consumidores destes artigos são por norma pessoas com ligações a esta zona do País, nota a responsável.