Sociedade
Ir de bicicleta para a escola é possível no concelho de Leiria e é “fixe”
Cinco escolas do concelho de Leiria integram o projecto CicloExpresso, um comboio com destino aos estabelecimentos de ensino e fazem da região uma das que mais inscritos tem
Perto das 8 da manhã, o comboio parte da Urbanização de Santa Clara, nos Parceiros, em Leiria, com destino ao Centro Escolar da freguesia. Os primeiros passageiros já estão montados na sua bicicleta.
Com o maquinista à frente e em fila, os alunos do Centro Escolar dos Parceiros vão pedalando animadamente até à próxima paragem, onde entram novos passageiros, ou seja, mais alguns colegas de escola.
Na quinta-feira, dia em que o JORNAL DE LEIRIA acompanhou o grupo, viajaram 53 crianças, acompanhadas de alguns pais, que fazem questão de pegar no capacete e pedalar ao lado dos filhos.
O CicloExpresso é um projecto desenvolvido pela cooperativa Bicicultura, a que o Município de Leiria se associou, que permite a um grupo de crianças ir para a escola de bicicleta, acompanhadas por adultos.
No concelho de Leiria aderiram a esta iniciativa as Escolas Básicas (EB) 1 Branca, Amarela, Caranguejeira, Centro Escolar de Parceiros e a EB 2,3 Dr. Correia Alexandre, que reúnem mais de 100 inscritos. “É fixe.” É assim que Guilherme Matos, aluno do 1.º ano, classifica o CicloExpresso, apesar de lamentar as subidas que tem de fazer no percurso.
Magda Matos sublinha que o filho ia faltar à escola porque tem uma consulta médica, mas quis ir na mesma. “Esta é uma iniciativa muito boa, porque promove o contacto entre eles e os miúdos sentem falta do exercício.” Assim que chegou à escola, Francisco, 8 anos, correu para as aulas. O pai, Vasco Roldão, também participou na viagem, desta vez, com a filha mais nova, sentada na cadeirinha atrás da bicicleta, e a mulher. “É espectacular e os miúdos adoram. Promove a prática desportiva e vejo uma participação muito activa dos pais.”
Animação antecipada
Das primeiras vezes que o Francisco ‘apanhava’ o CicloExpresso “nem dormia bem a noite, tal era a ansiedade de vir”. Quando preparava a semana já se entusiasmava por saber que quinta-feira era dia de ir de bicicleta para a escola. “Vir em grupo é mais giro. “O nosso filho mais velho até já quis fazer a sua festa de aniversário com um passeio de bicicleta com os amigos. Arriscámos, apesar de algum receio com a segurança, mas recordo-me de um miúdo dizer, apesar de todo encharcado: ‘está a ser o dia mais espectacular da minha vida’”, revela Vasco Roldão.
Com viagens agendadas uma vez por semana, no dia anterior o maquinista principal contacta o grupo de inscritos e fica a saber quantos passageiros terá no dia seguinte. Os auxiliares ajudam a garantir a segurança de todos e que ninguém fica para trás. “Há três linhas, uma delas serve duas escolas (Amarela e Branca), porque ficam perto uma da outra, as outras a Caranguejeira e o Centro Escolar dos Parceiros. Só aqui são cerca de 60 inscritos”, adianta Francisco Lontro.
Com 240 alunos, “significa que 25% da população desta escola está sensibilizada, o que é uma coisa extraordinária, mesmo, até ao nível do impacto social e de projecção da mudança parece muito interessante pensar como é que um projeto destes pode servir de facto a comunidade”.
Maior comboio
Segundo Francisco Lontro, habitualmente, aderem ao projeto 10% do total de alunos das escolas. O Centro Escolar de Parceiros é mesmo o maior comboio a nível nacional, revela.
António Santos, maquinista principal, acrescenta que há também uma “acção pedagógica a nível da segurança rodoviária” que é transmitida às crianças. “Claro que é divertido, os miúdos gostam muito de andar de bicicleta, mas há um problema real, que é o trânsito e em última análise um problema também ambiental”, acrescenta Francisco Lontro.
“Não decidimos Parceiros porque sim. Há uma análise do território e tentamos perceber qual é a dispersão e a densidade populacional. Os critérios mais técnicos aqui preenchiam-se todos, mas pensava-se que seria difícil implementar o projecto. A verdade é que há aqui uma particularidade: o caos do trânsito. Se calhar, isso foi o gatilho, especialmente para as pessoas de Santa Clara, que estão a uma distância relativamente tranquila”, explica o coordenador.
Para Luís Lopes, que decidiu trazer para Leiria o programa que nasceu em Lisboa, o CicloExpresso “faz sentido pela questão ambiental, a redução de emissões carbónicas e utilização de transporte próprio”.
“A sustentabilidade está directamente associada, portanto, o não consumo de combustíveis fósseis é absolutamente crucial, mas também temos de associar a dimensão da saúde, do bem-estar e do desporto. As pessoas reduzem o seu sedentarismo, o que acaba por ter resultados muito positivos naquilo que é a sua condição física”, destaca o vereador com o pelouro da Mobilidade.
Luís Lopes considera ainda que este programa prova que Leiria pode implementar o CicloExpresso em qualquer área do concelho, seja ela urbana ou rural. “É evidente que o ideal seria termos ciclovias em todos os locais, mas há que ter consciência que o ordenamento do território nunca o potenciou”, admite o autarca.
No entanto, a ausência de ciclovias não impede a circulação velocípede, como comprova a participação de centenas de crianças no CicloExpresso, “com zero número de acidentes”, o que mostra que a “circulação, mesmo quando são vias partilhadas, é perfeitamente possível” e que a bicicleta pode ser um “meio de transporte alternativo ou até principal”.