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Há um novo single da Ode Filípica e é uma crítica ao consumismo do Natal
“O inverno onde nada nasce” integra uma compilação da editora Anti-Demos-Cracia
Na primeira encarnação, a Ode Filípica existiu entre 1989 e 1994, com Carlos Matos (voz) e Pedro Granja (programações) a captarem o interesse da imprensa especializada nacional.
Formada entre a Maceira e a Marinha Grande, a dupla destacou-se pela sonoridade electro-industrial e pelo impacto das actuações ao vivo.
Em 2015, e já sem a colaboração de Pedro Granja, Carlos Matos reactivou o projecto, que tem agora um novo single: “O inverno onde nada nasce”.
Incluído na compilação 25.12, da editora Anti-Demos-Cracia, que saiu no passado dia 24 de Dezembro, o tema pode ser ouvido no Bandcamp.
Entretanto, Carlos Matos anunciou nas redes sociais que 2026 vai trazer pelo menos mais uma novidade relacionada com a Ode Filípica.
Sobre “O inverno onde nada nasce”, o programador cultural e DJ escreve que se trata de uma criação “deliberadamente “pop”, onde também se descortinam elementos da música industrial, electrónica, coral e black-metal”, que pretende “construir uma crítica contundente ao Natal enquanto ritual social esvaziado, dominado pelo consumo e por gestos automáticos”.
“O eu lírico não ataca o Natal enquanto ideia abstracta, mas o modo como ele é vivido: como encenação colectiva que tenta maquilhar um mal-estar mais profundo e persistente”, aponta, antes de concluir: “A Ode Filípica sempre foi assim, contundente. O seu fim não é agradar, é incomodar, é suscitar reflexão”.
Também no Bandcamp, estão disponíveis lançamentos anteriores, como “Marchar”, de 2021, “Libera Nos A Malo (feat. Izalah)”, de 2020, e “The Finishing Line (feat. Andrew King)”, de 2015.
Entre 1989 e 1994, os Ode Filípica apresentaram-se apenas quatro vezes em público. Momentos planeados ao milímetro para criar ondas de choque. As aparições na imprensa também ajudaram a alimentar o culto em torno de uma espécie de ovni no panorama musical português. Em especial, a entrevista ao (então jornal) Blitz em que se fala das sessões Ol Facipia Dei, de acesso restrito a sete pessoas de cada sexo.
“Os concertos não eram só um acontecimento musical, eram uma provocação, um elemento artístico de confronto, de fazer as pessoas reflectirem”, explica Carlos Matos num artigo publicado pelo JORNAL DE LEIRIA em 2015. A teatralidade em palco, as letras gótico-depressivas, as vocalizações violentas, as texturas sonoras que pareciam extraídas de rituais pagãos – tudo soava a mistério e nenhum dos mentores do projecto estava interessado em desmentir rumores.
Carlos Matos e Pedro Granja partilhavam afinidades musicais, com destaque para Cabaret Voltaire e Test Dept, mas eram diferentes como as duas faces da lua – o vocalista à beira do exorcismo, o engenheiro de sons discreto na rectaguarda. Lançaram várias demotapes com canções em português, inglês, francês, russo e odês – um dialecto que não era mais do que português da frente para trás. E um vinil de sete polegadas, que inclui as faixas “Time do Hell”, “Língua Morta” e “Ritual of Purity”.
Os Ode Filípica editaram na Alemanha, aparecem numa colectânea com os Young Gods e partilham a compilação Ritual Rock (1995) com Bizarra Locomotiva, Ornatos Violeta e Tédio Boys, entre outros.