Economia
Governo quer carros eléctricos nas estradas mas donos receiam ficar apeados
A rede pública de carregamento de veículos eléctricos, Mobi.e, é alvo de críticas por parte de muitos proprietários, que não usam estes carros para viagens maiores, com receio de ficarem apeados.
Comprou um carro eléctrico em Setembro, mas nunca se distanciou do centro de Leiria mais de 60 quilómetros, “por falta de confiança na operacionalidade dos pontos de carregamento no destino”. Luís Antunes é um de muitos proprietários deste tipo de veículos que dizem não sentir confiança na rede pública Mobi.e, porque a maior parte das vezes os postos estão inoperacionais.
Este leiriense trabalha junto ao Teatro José Lúcio da Silva, onde existem dois postos duplos, mas diz que nunca conseguiu ali carregar a sua viatura. “Quando comprei o carro já não estava a funcionar”. Os cerca de dez mil quilómetros que já fez nesta viatura foram assegurados, sobretudo, com carregamentos em tomadas domésticas. Na rede pública fez apenas quatro.
“Na realidade, a mobilidade eléctrica de que o Governo tanto fala tem-se revelado um embuste. Sei que o problema [de inoperacionalidade da rede pública] se verifica em todo o país”, afirma.
Luís Antunes adianta que no dia 6 deste mês, por exemplo, tentou carregar a sua viatura no posto da Avenida 22 de Maio, que segundo o site da Mobi.e está a fucionar, e não conseguiu. “Não se consegue sequer ligar, apesar da Mobi.e dizer que funciona”. O leiriense adianta que foi a própria Mobi.e quem lhe disse que na cidade de Leiria estariam a funcionar apenas dois postos, este e o das piscinas.
Luís Antunes lamenta a inoperacionalidade da rede, e diz que nem sequer se trata de uma questão de gastos (por enquanto ainda é grátis). “Não procuro a gratuitidade, quando comprei o carro já sabia que ia ter de o carregar muitas vezes em casa. Quero é ser servido”.
Por falta de confiança na rede pública, este leiriense não faz viagens longas no seu carro eléctrico. “Não arrisco. Vendo o que se passa em Leiria, imagino o cenário no resto do País”. Para ir a Lisboa, por exemplo, pede emprestado um carro com motor a combustão.
Lembrando que os carros eléctricos são mais caros, Luís Antunes entende que as marcas “deviam fazer pressão” para que a rede pública funcionasse devidamente. Mas suspeita que não o façam por interesse em vender mais carros a gasóleo/gasolina, que implicam manutenção, ao contrário dos veículos eléctricos.
“Isso não faz sentido”, garante Carlos Santos, administrador da Lizauto, concessionária da Renault em Leiria. “É desejável que haja postos públicos a funcionar, mas a marca alerta sempre para a necessidade de assegurar os carregamentos por meios próprios”, diz, adiantando que os carros eléctricos “não são concebidos para utilizações iguais às dos veículos a combustão”, apesar de a autonomia das baterias ser já, como no caso da Renault, na ordem dos 400 quilómetros.
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