Sociedade
Freguesia de Alqueidão da Serra em Porto de Mós exibe coleção com cerca de 450 burros
A colecção foi cedida à junta, em 2018, por Adelaide Almeida Bomba, entretanto falecida, e cuja avó residia na aldeia e tinha uma burra de nome “Malimboa”
Na sede da junta de freguesia do distrito de Leiria, encontram-se burros mealheiro, saleiro, paliteiro ou lamparina, burros que são porta-chaves, dispensador de cigarros ou vasos, feitos em cortiça, ferro, barro, palha, croché, cerâmica, corda, vidro, papel e um sem número de outros materiais.
Nesta burricada, há também burros em forma de moldura e espelhado em caixa de fósforos ou panos, outros que terão “fugido” de presépios e não falta o livro “Anita e o burrito”, entre muitos outros exemplares.
A colecção foi cedida à junta, em 2018, por Adelaide Almeida Bomba, entretanto falecida, e cuja avó residia na aldeia e tinha uma burra de nome “Malimboa”, contou à agência Lusa o presidente da autarquia, Filipe Batista.
“Todas as famílias tinham pelo menos um burro, pelo menos um, mas havia famílias que tinham três e quatro burros”, explicou o autarca, referindo que o animal “era o meio de transporte, o meio de trabalho”.
Depois de elencar múltiplas tarefas que eram atribuídas aos burros, Filipe Batista esclareceu que, no caso da “Malimboa”, era considerada “uma burra superinteligente”.
“Perguntavam à burra se ela gostava da Adelaide e a burra parece que fazia no sentido positivo, ao acenar a cabeça”, relatou. Quanto ao irmão, “a burra não dizia a mesma coisa, portanto, fazia o não com a cabeça”.
Segundo o presidente da junta, “a Adelaide, em criança, achava isto muito giro, muito divertido, andava na burra (…) e quando regressava a Lisboa contava isto aos amigos”.
E os amigos começaram a oferecer-lhe, em datas festivas, “burrinhos de tudo e mais alguma coisa”. Adelaide, por seu turno, começou também a amealhar burros e a fazer crescer a coleção.
Já com uma saúde muito frágil e a residir em Setúbal, Adelaide Almeida Bomba e a filha, Isabel (também já falecida), perguntaram “se a junta estava disposta a acolher” a coleção.
“E fazia sentido [a proposta], porque toda a história nasceu aqui, numa casa muito perto até da Junta de Freguesia (…) e aceitámos ficar com a coleção”, então com cerca 410 peças, incluindo recortes de jornais ou revistas nas quais surgem burros, disse.
A cedência teve direito a uma pequena cerimónia, em agosto de 2018, e a colecção está em exposição permanente na sede da junta, somando agora, mais coisa, menos coisa, 450 exemplares, acrescentados por iniciativa de cidadãos.
Os burros, esses, não são apenas nacionais, atestou Adelaide Cordovil, amiga de infância de Isabel, que fez a ponte para a doação da colecção à junta.
Na junta, há peças oriundas de Espanha, do norte de África, da América Latina e de outros países europeus, esclareceu, salientando que foi da relação com a burra que Adelaide Bomba criou uma grande amizade com Alqueidão da Serra, onde regressava todos os verões com a família.
Natural da freguesia e a residir em Lisboa, Adelaide Cordovil, reformada, recordou que, quando foi à vila (Porto de Mós) fazer o exame da 4.ª classe, os alunos da freguesia eram designados de “Alqueidão dos burros”.
“Lembro-me perfeitamente de a minha tia professora dizer ‘logo vemos quem é que são os burros’”, contou, para dizer que, normalmente, os alunos de Alqueidão da Serra faziam um brilharete nos exames.
Recuando a outros tempos, em que não havia outro meio de transporte que não este animal, Filipe Batista realçou que o burro fazia parte da vivência diária dos habitantes. Hoje, de acordo com o autarca, resta um na freguesia.
“O burro tinha um significado enorme na vida das pessoas, o burro era essencial, era parte da família”, assinalou ainda Adelaide Cordovil.
Sobre a criação de um eventual museu, Filipe Batista esclareceu que “poderia fazer sentido” haver um espaço próprio para albergar a exposição, acrescida de outros elementos.
“Ainda não surgiu a oportunidade, quem sabe possa vir um dia destes a nascer algo com mais impacto e que pudesse albergar, naturalmente, esta história e do animal em si” e da sua importância para a freguesia e população.
Na exposição, o burro maior é um peluche, mas como disse um freguês que a Lusa ali encontrou “não estão aí todos”. Um desabafo que é recorrente, confirmou o presidente da junta.
“Às vezes, quem visita tem essa graçola: ‘eeee tanto burro, mas não estão aí todos’”, rematou Filipe Batista.
Sílvia Reis, da agência Lusa