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Exposições: A Partir da Escrita

28 out 2025 09:16

Livraria Arquivo, Leiria

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Pintura e escultura tornam-se meios de reinterpretação da memória literária
DR

Até 31 de Outubro
Pintura, desenho, escultura
Artista: Bruno Gaspar
Livraria Arquivo, Leiria
Diariamente, excepto domingo

Texto de Bruno Gaspar

A partir da escrita, antes da exposição em Macau apresenta-se como um prelúdio da mostra que terá lugar em Macau, entre 4 e 31 de Dezembro de 2025, onde será apresentada uma centena de trabalhos que desenvolvi a partir da língua portuguesa e do seu vasto universo literário. Este projecto nasce do diálogo íntimo com poetas e escritores de língua portuguesa, dos vários países lusófonos, cujos textos e imaginários transportei para o campo da pintura e do desenho.

As obras oscilam entre duas vertentes principais: a desconstrução e recriação plástica de poemas e textos — fragmentados, recompostos e transformados em novas paisagens visuais — e a abordagem mais figurativa, onde surgem retratos dos próprios autores, pensados como uma forma de presença e homenagem.

Para a mostra no Arquivo, escolhi destacar alguns escritores com ligação à região de Leiria, nomeadamente Acácio de Paiva, Afonso Lopes Vieira e Eça de Queiroz. As suas obras foram reinterpretadas através da pintura, onde a palavra se converte em cor, gesto e textura, dando corpo a uma narrativa visual que prolonga e reinventa o texto literário.

A exposição integra ainda três esculturas originais, criadas a partir da obra Clepsidra, de Camilo Pessanha, que abrem novas possibilidades de leitura e diálogo entre literatura e artes visuais. Foram criadas em cimento modelado e espatulado, assumindo-se como corpos em construção e desconstrução, matéria que se ergue e se transforma sob o gesto. A rugosidade do cimento, com as suas marcas cruas e texturais, aproxima-se da palavra poética de Pessanha — densa, fragmentária e por vezes inacabada. Entre a dureza do material e a fluidez do movimento imposto pela espátula, emergem figuras que parecem suspensas entre o real e o onírico, transportando para o espaço expositivo a ideia de que a beleza pode habitar também na imperfeição e no inacabado.

No conjunto, esta exposição propõe ao visitante uma travessia pelo poder da escrita e a sua capacidade de gerar imagens, onde a pintura e a escultura se tornam meios de reinterpretação da memória literária, projetando-a para novos horizontes.