Viver
Do prémio Nobel àquela banda mítica, são festivais de Verão à moda da região
V. S. Naipaul em Óbidos para o Folio e Die Krupps pela primeira vez em Portugal (no Entremuralhas).
Longe vão os dias em que Vilar de Mouros pagava ao músico britânico Elton John para o primeiro evento à moda de Woodstock realizado em Portugal. Volvidos 45 anos, as drogas são outras, o país também, e se o Minho continua na rota dos artistas internacionais, já não é preciso viajar 280 quilómetros até à fronteira com Espanha para dizer que estivemos num festival de Verão. Provavelmente, nem é preciso encher o depósito. Isto porque, só no distrito de Leiria, e nos meses de Julho, Agosto e Setembro, há dezenas de datas com propostas culturais em formato concentrado, da música aos livros, da escultura às artes performativas.
Curiosamente, e ao contrário de outras paragens, é mesmo na literatura que se encontra o nome mais sonante de todos os que vão rumar à região nesta temporada estival que rima com festival. O britânico V. S. Naipaul, agraciado com o Nobel da Literatura em 2001, vai estar em Óbidos para a segunda edição do Folio, de 22 de Setembro a 2 de Outubro (sim, já depois do Equinócio que abre o Outono no hemisfério Norte), que traz também a Portugal o islandês Jón Kalman Stefánsson (autor de Paraíso e Inferno, editado pela Cavalo de Ferro) e o colombiano Juan Pablo Villalobos (que se estreou no romance em 2013 com Festa no Covil), entre 50 escritores portugueses e estrangeiros. Grandes nomes para afirmar Óbidos como destino literário. "Só assim é que faz sentido. Estamos a trabalhar para Portugal inteiro e sobretudo numa dimensão internacional. Quando divulgamos as datas do Folio, imediatamente os nossos hotéis na região ficaram lotados", sublinha Celeste Afonso, vereador da Câmara Municipal de Óbidos.
Também na curadoria, com José Eduardo Agualusa, a aposta é forte. "Para nós é muito importante ter um nome internacional, alguém que conhece muito bem o meio", refere a autarca. "Um curador com esta projecção permite agregar, a receptividade é completamente diferente. Por outro lado, a curadoria implica um conceito e há uma coerência".
Neste roteiro excluímos as festas, que com o tempo quente chegam a todas as cidades, vilas, aldeias, capelas e coretos, para nos concentrarmos apenas em momentos que colocam as artes no centro das atenções, embora às vezes também ofereçam porco no espeto, como acontece no Entremuralhas. E este é mesmo outro dos grandes destaques a fazer, porque a associação cultural Fade In continua a colocar Leiria no mapa da música alternativa, muito para além do gótico. Nos dias 25, 26 e 27 de Agosto, o Castelo recebe nomes como Die Krupps (estreia em Portugal, ao fim de 36 anos de existência da banda, que rivaliza com Kraftwerk e Einsturzende Neubauten na história do pioneirismo sonoro industrial), Karin Park, Grausame Töchter (que promete um dos espectáculos mais poderosos do cartaz, com cenas que alguns podem considerar obscenas, incluindo nudez e sado-masoquismo), Frustration, Sex Gang Children, King Dude, Kite e Corpo-Mente, entre outros.
O presidente da Fade In, Carlos Matos, lembra que "o Entremuralhas é um organismo vivo, que não está estanque dentro de um espartilho estético". Logo, "contempla a música gótica nas suas mais variadas vertentes, mas não se confina a um só género". E a programação deste ano "reflecte essa continuidade, embora haja aqui e ali uma abertura cada vez maior e mais abrangente, porque a nós interessa-nos a boa música, seja de que casta for".
Nomes como Ianva e Karin Park eram objectivos há anos, tal como os Die Krupps. "São cabeça de cartaz em muitos festivais da Europa com milhares de pessoas. Para nós é um orgulho", assume Carlos Matos.
No mesmo fim-de-semana, mas em São Pedro de Moel, o festival Afonso Lopes Vieira aproveita a brisa marítima e a protecção do Pinhal do Rei para projectar a poesia de Adília Lopes (através da dupla O Copo, formada por Paulo Condessa e Nuno Moura), mas também as canções de Minta & The Brook Trout, projecto liderado por Francisca Cortesão que lançou recentemente o terceiro álbum, Slow. É tudo à borla, e quase em tamanho de bolso, sem multidões nem complicações, graças à organização da Protur e do Município da Marinha Grande.
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