Viver
Como quem cria novos mundos
As estruturas temporárias do colectivo Til que mudam a vida nos festivais de Verão.
Em Monte Redondo criaram um túnel de entrada no Museum Festum baseado nas técnicas da cestaria tradicional, em Leiria instalaram um jardim no exterior do Centro Cívico e cobriram o recinto com fitas plásticas, na Lagoa da Ervedeira usaram canas para construir um abrigo durante o evento Floresta Viva e no festival Andanças delimitaram um percurso de moinhos de vento entre palcos e zonas de sombreamento com rodas de bicicletas velhas.
Ana Prates, Gonçalo Lopes, Guilherme Rodrigues, Pedro Augusto e Rui Aristídes são o colectivo Til, com experiência em arquitectura, filosofia, design de produto, artes plásticas, música e etnografia, um quinteto com ideias fortes, mas flexíveis, que se dedica à concepção e produção de estruturas temporárias, normalmente utilizadas em festivais de arte e outras manifestações culturais.
Falar com o colectivo Til à mesa de uma esplanada é como percorrer o caminho inverso da abordagem que eles próprios levam para o terreno – e que em grande parte se baseia em expandir conceitos XS para o tamanho XL.
Gonçalo Lopes: “O impacto de uma técnica construtiva ou de um material que normalmente não é usado para uma escala de arquitectura, quando aumentado, é superpoderoso”
No centro da ideia está sempre a ligação com o lugar, com a comunidade, como quem ilumina o que já existe ou chama a atenção para algo escondido. Por exemplo, moinhos de vento, que assinalam o invisível e o tornam mais presente.
Gonçalo Lopes: “Não estamos só a vender um objecto, tentamos perceber o que se passa, em que é que podemos ser úteis, não estarmos a impor, trabalhar com o que existe”
Ana Prates: “Perceber também a natureza social do lugar”
Guilherme Rodrigues: “E numa perspectiva de ajudar a nível de logística, há sempre esse questionamento, para podermos dar o nosso input”
Juntaram-se pela primeira vez em 2015, para tapar a ‘Torre Eiffel’ de Monte Redondo com telas brancas. E no festival Andanças, três anos depois, confirmaram a confiança no método que estão a desenvolver, baseado na exploração, no teste, na tentativa e erro, na experimentação, com muitos ensaios, muitas maquetes, antes do resultado final e definitivo.
Gonçalo Lopes: “A primeira coisa que fazemos é: questionar. Nós não olhamos para uma coisa [e dizemos] ‘ah eu sinto que quero pôr aqui um grande coração’. Não. Estamos a questionar o que é, o que pode ser. Então temos de eliminar muitas hipóteses até chegar à hipótese final. E todo esse processo é feito por teste. E é a única forma de chegar à resposta certa no final”
Angustiante, mas divertido. Ou divertido, mas angustiante. Os cinco elementos do colectivo Til propõem-se pensar, organizar e definir o espaço, em conjunto com quem organiza os eventos, dando prioridade a técnicas e materiais retirados de um contexto para outro, muitos deles artesanais ou do género faça você mesmo, como a cestaria no túnel de entrada do Museum Festum e as rodas de bicicleta no Andanças.
Ana Prates: “Hoje em dia acaba por ser a nossa assinatura”
Guilherme Rodrigues: “Não é um processo às cegas, em que imaginanos uma coisa no escritório e vamos lá fazer”
Com soluções low cost e sustentáveis, com o objectivo de criar referências no recinto, a imaginar ambientes que marcam e melhoram a experiência, sem necessidade de legenda. Estruturas temporárias que também têm um lado de intervenção artística. Para conferir nas edições de 2019 dos festivais A Porta e Andanças, onde o colectivo Til volta a criar novos mundos.