Opinião

Cinco vantagens de ser criança

2 jun 2016 00:00

Ninjas e Princesas Por Ricardo Graça

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Meninos, eu sei que é impossível adiar o inadiável, mas mantenham-se crianças o mais tempo possível, mesmo quando forem adultos, não apaguem a criança, que há em vocês. Mantenham-na num sítio à mão, vai ser necessária para ultrapassarem com distinção a difícil tarefa de serem homens e mulheres nesta aventura surpreendente. No imediato, a grande vantagem, se eu fosse criança, seria, não ter de estar armado em cronista, a escrever uma catrefada de caracteres em 15 minutos com os alarmes do tempo aos gritos e a sentir a responsabilidade de conduzir os pais indefesos, que fazem o favor de nos ler, em direcção a lado nenhum. Mas há muitas mais, são incontáveis. Vamos lá. Uma criança pode escarafunchar o nariz a seu belo prazer sem fazer aparecer a Bobone extremista que há oculta em cada adulto, a não ser que seja o nariz de outra pessoa, nesse caso é um pouco estranho, mas também perdoável. Pode saltitar pela rua em vez de andar ordeiramente e pode vestir quadrados com bolas que a culpa é dos pais. Pode urinar numa árvore da praça mais movimentada da cidade sem ser de madrugada, sem ter de controlar se vem aí alguém e em plena luz do dia. Pode subir às árvores. Pode rebolar pelo chão. A maioria não tem de ir trabalhar. Pode andar nu por qualquer praia. Na infância as birras são completamente normais e não precisamos de as disfarçar, justificar, nem assumir. Podemos dar umas estaladas ao pessoal da nossa idade sem meter tribunal, vingança ou qualquer outra cena de adulto. Quando somos putos não temos de estender a roupa, passar a roupa, lavar a roupa, a loiça, a boca, as mãos, nada. Podemos andar esfolados, desalinhados e alheados. Os putos podem recorrer àquela carinha de anjinhos que só eles sabem que quase tudo será perdoado. Podem dizer que não gostam de não sei quem só porque não lhes emprestou o brinquedo. Não têm vícios. Responsabilidades. Obrigações. São livres. Podem fazer perguntas incómodas, estúpidas e sem nexo. Podem dançar atabalhoadamente mesmo sem música que o pessoal ri-se, um riso bom e diz que vocês são felizes. Vocês próprios podem rir sem motivo. Têm alguém que vos passa a mão pela cabeça quando estão a dormir e se preocupa de verdade convosco. Podem viver num mundo sem stress, sem hiperventilações, sem tempo, sem ontem e sem amanhã. Podem contemplar a Natureza e, sem saberem, fazer parte do grande milagre que ela é. Porra, quando é que eu me tornei tão velho?