Viver
Brava, a ilha surpresa
Cabo Verde
Mais que uma viagem ou uma odisseia este encontro entre três amigos de longa data acabou por se revelar num exemplo de socialização e humildade. Com ideias e opiniões diferentes fomo nos moldando ao longo de cada passo, transformando esta viagem numa aprendizagem. Todos diferentes. Sem dúvida.
Cada um com o seu caráter e feitio. Mas tínhamos algo em comum. Uma fome insaciável por viajar e descobrir o Mundo. Sem dúvida que o verbo “viajar” nos corre no sangue e ao ouvi-lo desperta de imediato em nós um sorriso. Mas vamos ao que interessa. Brava.
Onde fica Brava? Em Cabo Verde? Desconheço por completo. A ideia de visitar um local com pouca informação sempre me fascinou. O pisar da bota entre labirintos de caminhos não pisados revela-se muitas vezes uma agradável surpresa e a ilha de Brava não fugiu à regra tornando-se num elixir para quem busca realmente aventura. Num lado temos Brava, o palco onde se passa todo o enredo.
Do outro temos a plateia. Eu, o Jorge e a Anabela. As cortinas vão-se abrindo aos poucos e aceitamos de bom agrado o bom que esta ilha tem para nos oferecer. Brava, tal e qual como o próprio nome indica, não é uma ilha fácil de se chegar. Com um aeroporto que já fechou há mais de 20 vinte anos devido a ventos fortes, a única maneira de se chegar a esta ilha é de barco.
Pouco ou nada sabíamos sobre esta ilha e deixámo- -nos levar ao sabor do vento. E é mesmo ao sabor do vento que começa esta aventura. Em pleno oceano atlântico sentimos toda a raiva do mítico gigante Adamastor que faz balançar o barco. Entre alguns enjoos dos passageiros devido à agita- ção do mar o que nos valeu foram as paisagens, acompanhadas por vezes pelos saltos de alguns golfinhos.
Com uma curta paragem na ilha do Fogo o barco segue até chegar à Brava. São 21 horas e estamos finalmente na vila de Furna. Um dos objetivos era atravessar esta ilha a pé por estradas e trilhos até à outra ponta, Fajã d´Água. Sem qualquer intenção de encontrar uma pousada, aventurámo- -nos no escuro com uma lanterna até arranjarmos um sítio para acampar.
Montadas as tendas, procurámos umas pedras que nos serviria de banco. Depois de alguma fadiga iríamos finalmente consolar as nossas papilas gustativas com fatias de Pizza que tínhamos comprado na cidade da Praia. Entre risos e gargalhadas fomos partilhando histórias até o sono bater à porta. Acordar no dia seguinte depois de ter montado a tenda em plena escuridão, tornou-se numa bela surpresa.
Tinhamos uma vista fantástica para a ilha do Fogo. Tendas arrumadas, tomámos o pequeno almoço e seguimos viagem com o peso da mochila até Vila Nova de Sintra. São cerca de 6 km sempre a subir. Vila Nova de Sintra é uma vila pequena mas com o seu charme. A pra- ça principal com os seus jardins coloridos, convida-- nos a tomar um café em pleno silêncio. Depois dum almoço merecido, continuámos viagem a pé.
O objetivo era fazer o trilho da Levada que nos levaria até Fajã d´Água. De características vulcânicas, Brava é um território bastante montanhoso, com picos muito elevados e vales profundos, atingindo uma altura de 976 metro no Pico das Fontainhas. Todo o caminho até ao corte para o trilho da Levada é a subir. Meios perdidos mandá- vamos parar alguns carros que passavam por nós para saber onde começava o trilho.
Trilho encontrado e apesar da pouca informação, deixámo-nos embalar a cada passo. Entre vales e montanhas os nossos olhos deliciavam-se com a vista fantástica sobre a baía de Fajã d´Água. A cada 10 metros que avançávamos, as má- quinas fotográficas entravam em ação para capturar cada imagem, como se fosse um modelo a pousar só para nós. ...
Rui Daniel Silva
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