Sociedade

Arguidos da burla 'olá pai, olá mãe' confessam em tribunal que desconheciam que estavam a cometer um crime

10 abr 2025 13:49

Dos sete arguidos apenas um não prestou declarações

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Dos sete arguidos em julgamento no Tribunal de Leiria, apenas um se encontra em prisão preventiva
Ricardo Graça

Três arguidos do caso burlas “olá pai, olá mãe” disseram hoje no Tribunal de Leiria, que desconheciam que a compra e venda de cartões SIM se destinava a actos ilegais. 

Sete homens e três sociedades começaram hoje a ser julgados. Aos três principais arguidos, um em prisão preventiva, estão imputados crimes de burla qualificada e de associação criminosa. Os restantes acusados e as respectivas três empresas respondem pelo crime de especulação.

"Eu fazia, mas não sabia que estava a cometer uma fraude", adiantou o principal arguido. Segundo explicou ao colectivo de juízes, o mesmo foi contactado por um amigo da escola, que o desafiou a adquirir cartões SIM e a introduzi-los "nuns aparelhos que ele enviou".

De acordo com o seu testemunho, o arguido recebia dinheiro para comprar os cartões. Depois colocava-os nos modems e introduzia o pin. "Não fazia mais nada. Nunca mandei nenhuma mensagem", sublinhou, ao referir que era o amigo, que tinha autorização para entrar no seu computador, que tratava do resto.

O arguido afirmou ainda que estranhou a quantidade de cartões que lhe eram pedidos, pelo que chegou a questionou um comerciante dos modens, que lhe disse que "não era nada ilegal".

Como não desconfiou que estivesse a cometer um crime, continuou a sua acção, que assentava em contactar outros dois arguidos, que compravam os cartões SIM em lojas, em Lisboa, mediante o pagamento de bitcoins ou dólares.

Os arguidos, com idades entre 22 e 67 anos, residem na Grande Lisboa e as burlas, tentadas e consumadas, atingem 109.235,60 euros e lesaram 41 pessoas, segundo o Ministério Público (MP).

Outros dois arguidos confirmaram que foram contactos através do Marketplace, onde tinham informação de que vendiam cartões SIM. Após contacto do detido para a aquisição dos referidos cartões, o mesmo contactava as lojas para fazer a reserva. Quando a mercadoria estava disponível, era outro arguido que a ia levantar.

Ambos assumiram ao colectivo de juízes que desconfiaram da requisição de tantos cartões e questionaram o principal suspeito para que fins os comprava. O detido respondeu-lhes que "era para fazer vídeos no youtube e nas redes sociais".

"Chegaram a ser 6 a 7 mil cartões", adquiridos, admitiu um dos arguidos, sublinhando que tem um emprego efectivo em Portugal e só vendia os cartões em part time. "Não tinha intenção de fazer algum mal. Não sabia que estes cartões eram usados para algo ilegal”, disse.

No despacho a que a agência Lusa teve acesso, o MP sustentou que os três principais arguidos fazem parte de um grupo de pessoas, devidamente organizadas, que “se dedicam à prática massiva de burlas”, designada de “olá pai, olá mãe” ou “falso familiar”, fazendo dela modo de vida” e “retirando dividendos, posteriormente divididos pelos elementos do grupo segundo a sua hierarquia”.

A estes três arguidos, na base do grupo, cabia a “disponibilização massiva de cartões SIM [de telemóvel], em ‘modens’, que se encontram configurados em aplicações acessíveis aos outros elementos do grupo através do servidor e que, posteriormente, providenciam a criação de contas na aplicação WhatsApp e a sua utilização junto de potenciais vítimas”.

Outros, por sua vez, “disponibilizam entidade/referências e contas bancárias para as vítimas fazerem os pagamentos” e, deste modo, “os valores pagos entram nos circuitos de inúmeros fluxos financeiros”.

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