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Afonso Rodrigues. A estreia a solo a cantar em português
O primeiro single, “Já Nem Sei”, chega hoje ao público
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E aos 29 dias do mês de Novembro do ano de 2024 o artista anteriormente conhecido como Sean Riley volta a ser Afonso Rodrigues, o nome com que cresceu em Leiria até seguir para Coimbra e depois para todo o lado com os Slowriders.
“Já Nem Sei”, o primeiro single da nova viagem, a solo, em que se estreia a cantar em português, chega esta sexta-feira ao público – e tem videoclipe do Casota Collective, artwork de João Diogo e fotografias de Kid Richards.
Afonso Rodrigues (conhecido ainda pela participação nos Keep Razors Sharp) anuncia “uma estética completamente diferente” dos trabalhos que assinou anteriormente. Desta vez, “não há banda” e tudo é construído com “teclados, sintetizadores e beats”.
O músico “queria” que o resultado “fosse o mais digital possível” e explica que a meta passa por “encontrar um balanço entre uma escrita de canções mais clássica e mais assente na tradição do cantautor português” e, por outro lado, “uma sonoridade mais contemporânea”. Novidade, também, é que a guitarra clássica (com cordas de nylon) se torna o principal instrumento de composição, antes do estúdio.
“No início foi bastante estranho porque eu próprio não sabia muito bem como vestir aquela pele”, diz ao JORNAL DE LEIRIA.
“Figura central” nas gravações, nos arranjos e na co-produção do álbum previsto para 2025 é Filipe Costa, dos Slowriders. “Eu precisava de alguém com quem estivesse 100 por cento à vontade, em quem confiasse, para me sentir livre o suficiente para me expressar” e “cantar sem inibições”, comenta Afonso Rodrigues. Conseguiu-o com o amigo e companheiro de estrada, que ofereceu “motivação” e um “grande apoio do ponto de vista criativo e técnico”.
A referência Zeca Afonso
O capítulo que está a iniciar-se “esteve em gestação durante muitos anos”, explica. “Praticamente desde que comecei a escrever e a gravar música em inglês, tive também sempre o desejo de o conseguir fazer em português. Mas, por variadíssimas razões, sendo talvez as principais falta de tempo e falta de vocação, era uma coisa que eu ia adiando”.
É possível ir mais atrás e descobrir na infância e na família a semente da atracção pela cumplicidade entre a viola acústica e a palavra. “Lembro-me desde criança de ouvir o Zeca. O meu pai era grande fã”, partilha Afonso Rodrigues. “A primeira música pela qual tive um grande fascínio foi “A Morte Saiu à Rua” e de repente dei por mim talvez com 12, 13 anos a pôr os discos durante os dias de semana mesmo sem o meu pai estar em casa”.
Mais recentemente, mesmo sem se sentir particularmente português, ou de outro lado qualquer, com o nascimento dos filhos em Lisboa a enterrarem cada vez mais fundo as raízes a língua soltou-se para falar aquela que hoje sente como a sua verdade.
O momento de viragem deu-se em 2019 com uma canção que o convenceu que tinha alcançado “uma linguagem” e “uma voz” e que o deixou a sentir-se “satisfeito, pela primeira vez, com uma tentativa de escrita em português”. Seguiram-se mais canções e mais ideias, durante a pandemia, deixadas na gaveta por um disco com os Slowriders e um EP com The Legendary Tigerman. Até que, em 2022, depois de uma viagem a África, o projecto se vê, finalmente, a ganhar forma. “E foi nisso que estive a trabalhar durante o ano passado e este ano”.
Álbum e concertos
O lançamento em formato longa duração deverá ocorrer, provavelmente, lá para Fevereiro. “Não é 100 por cento autobiográfico, é um disco que se baseia em coisas que vivi mas às vezes as histórias são construídas com base na observação do mundo”, avança Afonso Rodrigues. Leiria, claro, está na agenda dos primeiros concertos no novo caminho do artista também conhecido como Sean Riley. “É uma página que se abre ao lado”, resume. E os Slowriders? “São imortais”.