Viver
A escola
Ricardo Charters d’Azevedo
Será que os nossos antepassados iam à escola? Com meios limitados, o mestre de escola, que era o pároco ou um laico, ensinava o catecismo com uns rudimentos de leitura e por vezes de escrita, na sacristia.
Este ensino era reservado aos jovens. Algumas “avós” ensinavam as raparigas a trabalhar com a agulha, descurando as letras do alfabeto. Por outro lado, a escola não era frequentada assiduamente.
Quanto muito, do dia de Todos-os-Santos ao final de Abril, antes dos grandes trabalhos agrícolas que obrigavam a sua presença nos campos.
Claro que as famílias mais abonadas ou cultas obtinham preceptores para as suas crianças e mais tarde enviavam-nas para colégios de freiras ou de frades e muitas vezes mesmo para o seminário.
Muitos dos “inquéritos de génere” que a igreja efetuava (para controlar a admissão aos seminários) cobriam vários jovens da mesma família, mas que mais tarde nem todos chegavam a frequentar o seminário por completa falta de vocação.
Muitas vezes a consulta de registos paroquiais ou notariais permite-nos perceber que indivíduos notáveis, pela sua riqueza na sua região, não sabiam assinar o seu nome, limitando-se a colocar uma cruz, símbolo do juramento sobre a Cruz de Cristo.
Somente os letrados escreviam o seu nome com firmeza, fazendo-o seguir, pegado com a última letra, por um “sinal complicado” muito decorativo e personalizado.
Era este sinal que revelava a pessoa e não nome que era simplesmente escrito. Saber ler, escrever e contar era a primeira fórmula necessária a uma possível ascensão social.
Se para a maioria camponesa os bancos da escola não passavam de uma miragem, já para os elementos da classe média o acesso à educação tornou-se determinante para a tornar realidade os sonhos mais ambiciosos.
Os edifícios das primitivas escolas no nosso país eram, muitas vezes, o resultado de ofertas de pessoas endinheiradas da região. A professora era também muitas vezes paga por um bolso particular.
Raramente os miúdos de pé descalço, calça rota sem fundilhos a frequentavam, pois não havia obrigatoriedade. Temos exemplos, como o do Conde Ferreira, que filantropicamente fez construir 120 escolas primárias em Portugal nos finais do século XIX.
No nosso distrito temos alguns exemplos, como o do Coronel Alexandre Costa Pereira, meu bisavô, com várias filhas, que oferece o rés-do-chão da sua casa na Dagorda para elas aí serem educadas, bem como as crianças do lugar.
Ou ainda, já no século XX, por exemplo nas Cortes, o Engº José Maria Charters Henriques d’Azevedo oferece, em 1933, o edifício da nova escola e a Junta de Freguesia das Cortes agradece colocando a fotografia dele no edifício.
Texto escrito de acordo com a nova ortografia
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