Apresentou uma conferência em 2013 em que falava sobre o problema de colocar todos os ovos na mesma cesta. Por que é importante o elogio da diferença?
Com a globalização, passámos a ter acesso a tudo. Curiosamente, e paradoxalmente, as pessoas estão a consumir mais do mesmo. Acontece com a comida, com as marcas de roupa, com a música, com a informação. A globalização aparentemente privilegia os monopólios. O maior perigo que a humanidade corre é justamente este: tendemos a criar monopólios.
Um perigo que tem a ver com liberdades.
Com uma liberdade de escolha. O monopólio mais perigoso é o monopólio cultural. O que se passa é que nós estamos a aceder todos à mesma informação. As influências culturais e musicais das minhas filhas neste momento são as mesmas de qualquer miúdo no mundo inteiro. O que faz com que daqui por alguns anos venhamos a ter uma massa humana que foi criada toda com as mesmas referências.
Debaixo de um pensamento dominante.
Debaixo de um pensamento comum, que pode ser bom, esperemos que seja bom, mas também pode ser mau.
Nesse contexto é mais difícil afirmar um raciocínio crítico?
Eventualmente, sim. E fazê-lo valer. A partir do momento em que estamos homogéneos do ponto de vista cultural, isso torna a sociedade humana mais frágil. E é na minha opinião um dos maiores problemas que enfrentamos.
Tem alguma solução?
Não tenho. A minha esperança é que nos reinventemos. De certa forma, é muito democrático o acesso a criar influência. Qualquer pessoa, hoje em dia, se tiver alguma coisa interessante para dizer, aponta uma câmara, grava um vídeo e coloca no YouTube.
A força do pensamento dominante também se sente na comunidade científica?
Sente. Quando alguém aparece com uma ideia realmente nova é difícil ser aceite. Acontece, e é triste acontecer, porque a natureza da ciência é ter um espírito crítico. A postura correcta de um cientista é sempre duvidar, duvidar de tudo. E portanto a mim choca- me que aconteça. E acontece.
Há franjas que resistem à novidade.
Claramente. Porque nós vivemos num mundo hipercompetitivo, onde as pessoas muitas vezes não têm tempo para realmente ler o conteúdo. Muitas vezes as pessoas são avaliadas em universidades, e são avaliadas em ciência, não porque alguém realmente percebeu o que elas fizeram, porque leu realmente o conteúdo do trabalho deles, mas porque se baseou em índices.
Considerando a natureza instável da ciência, a matemática é um refúgio mais seguro? Uma verdade na matemática é verdade para sempre?
Há quem acredite que sim. E talvez entre todas as ciências seja um dos mais seguros. Nós ambicionamos da matemática ser o mais puros possível, em termos de argumentos: se eu tenho uma verdade matemática, essa verdade vai ser verdade para sempre, porque eu tenho um argumento, que nós em matemática chamamos demonstração, que garante que aquela verdade é verdade mesmo. O teorema de Pitágoras era válido há 2 mil anos, continua a ser válido hoje e vai quase de certeza ser válido para sempre. Porque é muito improvável que alguém hoje encontre um erro no teorema de Pitágoras. É altamente improvável, não é impossível. Mas a matemática também é feita por humanos. Na fronteira do conhecimento fazem-se coisas que são muito difíceis de entender. E isso faz com que sejam de tal maneira elaboradas que estão muito sujeitas a erro. Há quem acredite que muitos dos artigos publicados actualmente contêm erros, mesmo aqueles que saem nas revistas de topo. Eu próprio já encontrei vários. Isso acontece porque a ciência é feita por humanos. O erro faz parte da ciência e da matem&aac
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