Opinião

Uma vergonha

5 abr 2018 00:00

Como é costume dizer-se, “em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”, o que não é muito diferente do que tem acontecido em Portugal.

Apesar das melhorias observadas nos últimos dois anos em diversos indicadores económicos, a verdade, e não tenhamos dúvidas, é que Portugal continua em dificuldades e a sofrer de um mal que, excluindo os períodos eufóricos das especiarias da Índia e do ouro do Brasil, se confunde com a sua história: a pobreza.

E como acontece numa casa sem pão, onde todos reclamam para as suas necessidades, também no nosso País os protestos vêm dasmais diversas direcções a reivindicar o que se entende ter direito, sejam salários mais altos, seja melhor educação, sejam maiores apoios para as empresas.

No entanto, como a casa é pobre, o dinheiro não é suficiente para satisfazer tanta necessidade, sendo muitos e graves os problemas que brotam da escassez, bastando pensar na míngua em que se encontra o Serviço Nacional de Saúde ou no que resultou a ‘poupança’ na prevenção e combate aos incêndios.

Como, na tal casa pobre, onde não há pão mas aparece dinheiro para o telemóvel novo, também no nosso País parece haver pobreza seleccionada, gastando-se em excesso numas coisas e cortando-se pela raiz noutras, não sendo necessário, certamente, recordar quanto é que o sistema bancário já roubou dos bolsos de quem paga impostos ou quanto dinheiro empenhámos para alcatroar Portugal de alto abaixo.

Como é óbvio, se o pouco que temos é mal distribuído, há quem sobreviva com as migalhas do pão que, quem arrota de barriga cheia, deixa cair no chão, sendo os esfomeados os mesmos de sempre num país pobre, não apenas em dinheiro, mas também de espírito.

É o caso da cultura, que não obstante ser o que sempre definiu as grandes civilizações, ou como escreveu Agustina Bessa-Luís, “o que identifica um povo com a sua finalidade”, continua a ser desprezada, como sempre foi, por quem governa, mesmo que nos discursos oficiais seja evocada como uma das grandes prioridades e apostas do País.

Neste caso, no entanto, os números não mentem e não deixam margem para que palavras ocas escondam o que se passa, que é pouco menos do que uma vergonha.

O JORNAL DE LEIRIA entendeu associar-se ao Mês da Saúde, que se assinala em Abril, e publica hoje a primeira de quatro edições onde dará particular destaque a esse bem de valor incalculável.

Assim, ao longo deste mês, boa parte das nossas páginas serão dedicadas a assuntos, directa ou indirectamente, ligados à saúde, entre entrevistas, notícias, textos de opinião ou trabalhos de investigação.

Pensamos ser uma boa forma de o JORNAL DE LEIRIA contribuir para uma causa que a todos diz respeito, reforçando a mensagem da importância da prevenção e dos hábitos de vida saudáveis, mas também transmitindo algumas das principais novidades e inovações neste campo..