Editorial
Uma noite diferente
Por cortar o mal pela raiz, que foi o que a Câmara fez, com prejuízo dos empresários cumpridores e dos notívagos para quem a discoteca não é uma solução.
Como seria de esperar, a entrada em vigor do regulamento que obriga os bares a encerrar mais cedo trouxe alterações significativas à noite leiriense, gerando diferentes reacções entre as partes interessadas.
Se, por um lado, os moradores se mostram agradados por, finalmente, conseguirem descansar durante a noite, já os donos dos bares revelam-se desesperados por as receitas terem caído com a redução do horário, falando muitos em insustentabilidade do negócio.
A ganhar ficaram os empresários com discotecas na cidade, que começaram a ver os clientes chegar mais cedo.
Ou seja, numa avaliação imediata, poder-se-á concluir que a medida está a ter resultados no seu principal objectivo, que é o de garantir aos moradores do centro histórico, onde se concentram a maioria dos bares, o direito ao descanso.
No entanto, não deixa de ser uma medida injusta para os empresários que ao longo dos anos cumpriram a Lei e tiveram a preocupação de investir nos seus espaços, nomeadamente em insonorização, como também se pode considerar que é uma amputação de parte da vida da cidade, que, como um pouco em todo o Mundo, também se faz da noite.
É caso para dizer que, como tantas vezes acontece, está a pagar o justo pelo pecador, estando todos os estabelecimentos a sofrer da mesma forma pelos excessos inaceitáveis que aconteceram durante tempo de mais.
Tempo em que se abriram bares, sem condições, em qualquer vão de escada, em que muitos estabelecimentos fizeram da rua um prolongamento dos seus espaços, muitas vezes com as colunas viradas para fora, em que se permitiu que os notívagos fizessem do espaço público o que bem lhes apeteceu, desde urinol, até ringue de lutas, passando por sala de ensaios em que se treinava o berro mais alto.
Sobrou estupidez e escasseou civismo, mais parecendo que a rua era invadida por um bando de inaptos mentais, quando, em muitos casos, o caos era espalhado por estudantes do ensino superior, o que não deixa de ser bastante preocupante…
Faltou fiscalização, policiamento, exigência e dissuasão. Faltou, principalmente, bom-senso e respeito.
E, quando assim é, geralmente a solução passa por medidas radicais.
Por cortar o mal pela raiz, que foi o que a Câmara fez, com prejuízo dos empresários cumpridores e dos notívagos para quem a discoteca não é uma solução.
O futuro destes estabelecimentos passará por convencer os seus clientes a chegar mais cedo, tentando combater a mentalidade do ‘tardio’ tão enraizada em Portugal, onde, não raras vezes, se ‘faz tempo’ em casa até ser hora de sair.
Basta importar o modelo da Europa central, onde tudo se faz mais cedo.
Começa-se a ‘ganhar tempo’ na hora de jantar e antecipam-se todos os momentos da noite, incluindo a hora de deitar, sem abdicar de nada, com a (grande) vantagem de o dia seguinte ser menos doloroso.