Opinião
Um submarino chamado Portugal
Conseguem imaginar que extraordinário Portugal teríamos com nomeações de pessoas baseadas no mérito?
Como refere a revista Visão, “é um homem de resposta às crises. O vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, 60 anos, especializou-se em submarinos, comunicações e guerra eletrónica.
Esteve envolvido no combate aos incêndios na região Centro em 2017, que vitimaram mais de uma centena de pessoas, e na crise do SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança).
Os pares reconhecem-lhe competência e até já mereceu o elogio de António Costa; o que faz do adjunto para o planeamento e coordenação do Estado-Maior General das Forças Armadas a pessoa para coordenar a task force do plano de vacinação contra a Covid-19, grupo que já integrava.”
O Vice-almirante Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo nasceu em Quelimane, Moçambique, em 1960. Ingressou na Escola Naval em 1979 como Cadete e em 1983 foi promovido a Aspirante.
Quatro anos de formação base que foram complementados ao longo da vida com vários cursos: a especialização em Comunicações e Guerra Electrónica, o "International Diesel Electric Submarine Tracking Course" em Norfolk, Estados Unidos, Curso Geral Naval de Guerra, pós-graduação em “Information Warfare” na Universidade Independente, o Curso Complementar Naval de Guerra e o Curso de Promoção a Oficial General no Instituto de Estudos Superiores Militares.
Fez mais de dois terços da sua carreira na área operacional, a maior parte embarcado.
Desde Janeiro de 2020 exerce as funções de Adjunto para o Planeamento e Coordenação do Estado-Maior General das Forças Armadas, cargo que acumula com o de coordenador da task force do plano de vacinação contra a COVID-19 em Portugal.
Temos então, no país das trapalhadas, uma missão que corre bem – a da vacinação - da qual todos dependemos e cujo valor para o futuro do país é impossível de calcular.
Acredito que o Vice-Almirante será reconhecido no futuro pelos seus serviços e juntará às muitas condecorações que já recebeu, mais algumas.
Resumindo: temos um profissional com experiência no terreno, com vasta formação, com sentido ético, dimensão humana e autoridade, à frente da vasta e complexa tarefa de vacinar em tempo útil um país, num contexto onde as variáveis mudam – há vacinas, não há vacinas, pode-se vacinar determinada faixa etária ou não pode, há sistema informático para identificar pessoas ou não há, entre muitos outros factores em permanente mudança.
Agora, por um minuto apenas, façamos um exercício esclarecedor: imaginemos que para este cargo era nomeado alguém através daquele mecanismo entranhado na cultura portuguesa chamado cunha.
Ou seja, alguém sem formação, sem experiência, sem perfil e sem capacidade.
Imaginam?
Agora imaginem os milhares de cargos profissionais que temos no país sem “vice-almirantes”, mas com pessoas que ocupam os lugares por serem filhos, afilhados, primos, amigos, parentes diversos e credores de favores.
Conseguem imaginar o peso que a cunha tem no atraso de um país?
Ou, dito de outra forma, conseguem imaginar que extraordinário Portugal teríamos com nomeações de pessoas baseadas no mérito?