Opinião
Um mês sem Lagoa: meditação
O encerramento da Casa Lagoa, constituiu um rude golpe para os muitos homens, e para as duas mulheres, que frequentavam este estabelecimento
Sem conseguir encontrar mais palavras para descrever toda a animação que quotidianamente enche a baixa da cidade, ofereço-vos este mês uma depressiva meditação sobre as exéquias realizadas no passado 30 de janeiro junto ao estádio de futebol (qualquer dia ainda lá fazem obras!). Imaginei alguns concidadãos a fraquejar dos nervos com o (doloroso) encerramento da Casa Lagoa, no que constituiu um rude golpe para os muitos homens, e para as duas mulheres, que frequentavam este estabelecimento.
Tive o privilégio de arranjar convite para a cerimónia de encerramento, que contou com a presença de distintas autoridades, num convívio multitudinário com representantes de todos os escalões salariais da administração pública. Cruzei-me também com alguns visitantes que acompanhavam a sua equipa de futebol na deslocação ao Magalhães Pessoa, e que manifestaram surpresa relativamente aos 100 escudos cobrados pelo copo de vinho.
Confidenciaram-me que na terra deles, a sul do Porto, era já impossível encontrar este equilíbrio entre qualidade e bom preço. A festa ficou marcada pela abundante queima de petardos (no interior e no exterior deste ex-equipamento), tiraram-se também muitas fotografias, e guardo com particular carinho no meu hipocampo o momento em que uma cliente mastigou a última bifana que foi vendida naquele mítico balcão.
O encerramento desta casa consagra o fim eminente de uma geração movida a uvas, sardinha, porco e bacalhau. Declarando uma viragem que parece fazer-se para a área das pizzarias e sobretudo dos buffets de tipo asiático (seja lá o que isso for). Sei, contudo, que nessa geografia mais distante a maior parte das pessoas (e são bastantes, segundo me contaram) não estão familiarizadas com o consumo de pão nem de azeite.
Estou ciente da elevada cotação da farinha e do azeite em particular (justificada pelos incêndios dos olivais gregos e argelinos), mas inquieta-me ver tanta gente sentada à mesa sem a presença destes dois velhos companheiros.
Prometo, ainda assim, permanecer vigilante, buscando um outro bom motivo para, de cabeça (relativamente) erguida, avançar por 2024 adentro.