Opinião
Um elevador a funcionar
Cada um de nós, independentemente do ponto de partida, devia ter acesso às mesmas oportunidades
Prestes a iniciar-se um novo ano letivo, parece-me relevante recordar um dos mais graves constrangimentos do nosso país: a falta de igualdade de oportunidades.
Garantir que a igualdade de oportunidades é uma realidade em Portugal devia ser, de resto, uma causa nacional e um objetivo coletivo do país.
Ou seja, cada um de nós, independentemente do ponto de partida, devia ter acesso às mesmas oportunidades.
Sem que isto aconteça, a verdade é que não somos plenamente livres, porque estamos, de alguma forma, dependentes para realizar o nosso projeto de vida do nosso apelido, do local onde nascemos, do tamanho da carteira dos nossos pais, ou de tantos outros fatores aleatórios e, por isso, injustos.
Um dos mais recentes e interessantes relatórios produzidos sobre esta matéria (OCDE, junho 2018) concluiu que são precisas até cinco gerações, ou seja, 125 anos, para que as crianças nascidas numa família de baixos rendimentos consigam atingir rendimentos médios.
Não é de admirar que este mesmo relatório conclua que os portugueses são relativamente pessimistas quanto às suas perspetivas (e ainda não havia pandemia).
Porquê? Porque a perceção, confirmada pela realidade, é de falta de justiça social, de “jogo viciado” e de desigualdades estruturais.
Mas, mais do que constatar a triste realidade que nos acompanha, importa olhar para as soluções.
Reforçar o sistema de ensino, com qualidade e com os meios necessários, para que se evitem desigualdades o mais precocemente possível, bem como a aposta no ensino pré-escolar.
Infelizmente, a taxa de cobertura ainda não permite garantir a todas as crianças a sua frequência a partir dos três anos.
Em segundo, o investimento em saúde permite potenciar a mobilidade social, com um olhar mais atento para as crianças em situação de maior vulnerabilidade. Em terceiro lugar: esbater as assimetrias regionais.
Preparamo-nos para começar a executar o Programa de Recuperação e Resiliência. Que bom seria se no final da sua execução tivéssemos um país onde o elevador social verdadeiramente funcionasse.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990