Opinião
Tenho mesmo de pensar neste assunto
A pensar sobre este assunto e temerosa que haja em mim uma tendência para a submissão herdada da minha avó paterna, sei que com os narcisos, eu não poderei facilitar. Apesar de ficar impedida de aceder ao conhecimento que dizem possuir, vou mesmo ter de os ocultar no meu mural “facebookiano”.
Ao longo dos meus anos há algo que me habituei a fazer todos os dias e de que necessito para me sentir bem. Trata-se de impor sempre uma reconfortante pausa entre as tarefas que programei para me pôr, confortavelmente, a pensar no que na altura me apetecer. Claro que quando me aposentei acrescentei uma outra pausa: ir ao Facebook espreitar as novidades.
Porém, não deixa de ser curioso! Sinto que, nessas pausas, naquela em que me ponho a pensar no que me apetecer, geralmente saio dela com um pensamento que acrescenta algo de bom à minha maneira de ser. Já nas minhas idas ao Facebook, nem sempre.
Num destes dias, por exemplo, apeteceu-me olhar para duas fotografias. Numa estão retratados os meus avós paternos, na outra os maternos. Nunca tinha pensado nisto, mas o que nelas observo está bastante ligado à ideia que construi sobre as personalidades de cada um desses meus avós.
Da mãe do meu pai disseram-me ser muito bondosa e passar a vida preocupada com os mais pobres. Pelos vistos, sempre às escondidas do meu avô, à sua volta ela tratava de que ninguém passasse fome ou frio, o que eu até acho compreensível por ser o meu avô industrial de lanifícios e como li, no seu bilhete de identidade, ter a profissão de proprietário!
E o que vejo na fotografia que os retrata?
A minha avó em pé, ao lado direito do marido, com a sua mão poisada não no ombro dele, mas nas costas do cadeirão onde o meu avô se encontra sentado.
Nesta fotografia, tirada há mais de cem anos, eu vejo a minha avó feliz, mas retratada como se fosse um apêndice do meu avô.
Já na outra fotografia, a dos meus avós maternos, eu vejo a minha avó ao lado do meu avô. Mostram-se-me como iguais na sua união familiar. E apesar de concordar com Anais Nin quando ela diz que nós não vemos as coisas como elas são, mas sim como nós somos, eu, no meio desta reflexão, relembrei a importância de cada um estar alerta e disponível para contrariar em si, a todo o custo, as características comportamentais hereditárias responsáveis por se magoarem a si próprios ou aos outros.
Já nas pausas que faço para ir até ao Facebook, às vezes, sinto-me intolerante para com os presunçosos que por lá andam. Ao percecioná-los como pessoas que nutrem por si próprios e pelo que sabem uma excessiva confiança e ao vê-los assim tão lestos a atacarem os outros, mais do que a debaterem diferentes pontos de vista, dou comigo a insultá-los dizendo para mim que eles não passam de uns “narcisos”!
Ora o que tal pensamento acrescenta de bom à minha maneira de ser? Nada!
A pensar sobre este assunto e temerosa que haja em mim uma tendência para a submissão herdada da minha avó paterna, sei que com os narcisos, eu não poderei facilitar.
Apesar de ficar impedida de aceder ao conhecimento que dizem possuir, vou mesmo ter de os ocultar no meu mural “facebookiano”.
Oh, mas lembrei-me agora! O meu avô paterno era muito assertivo, será que não foi dele que herdei o radicalismo deste meu ato?
Tenho mesmo de pensar neste assunto!