Opinião
Sossego
É o papel de muitos, o de assistir
Quebrou-se o sossego.
Este texto é sobre a invasão russa da Ucrânia.
Tinha havido manifestações que diziam que ia haver barulho mas, por serem distantes ou papagueantes, foram ignoradas.
Ainda assim, estranhamos a razão da guerra.
Porque haveria de um país invadir o outro, espalhando a morte e a destruição?
Mas esse exercício de existencialismo europeu, onde as causas e as consequências de tais actos importam compreender, durou pouco.
Ninguém nos ensinou porque os povos partem para a guerra, porque o conflito destrutivo está na génese das nações, porque a morte é o argumento final de uma disputa.
Aceitamos a herança bélica que definiu as fronteiras dos países que habitamos e cremos que estas se mantêm para o resto das nossas vidas.
Este era o sossego europeu. Uma vez quebrado o silêncio é necessário alimentar o espaço de informação com assunto, para que este não morra.
Atentos à tecnocracia bélica, à dinâmica comentarista e às querelas de veracidade, que de parte a parte vão tornando visível a guerra aos nossos olhos de espectadores, a missão tornou-se manter o assunto para quem só de longe consegue cheirar o fumo.
É o papel de muitos, o de assistir. Outros, corajosos, procuram ajudar na Ucrânia e nos países próximos.
Valha-nos a solidariedade dos povos e a entreajuda aos necessitados.
Apesar destas circunstâncias extraordinárias, somos rápidos a normalizar.
A adaptação é uma condição humana, absorver uma nova rotina, um novo paradigma, e continuar a viver.
Como se o contínuo fluxo da história fosse inalterável.
Mas, as bombas distantes ainda ressoam aqui, ainda me perturbam os dias, ainda me turvam o sono.
A vocês não?