Opinião
Revisitando Maquiavel
[António Costa] Vai distribuindo, com parcimónia, como ensina Maquiavel, as benesses ao povo, aproveitando uma pequena “almofada” e jogando com o tempo.
Meu Caro Zé, Como prevíamos há um mês, o Dr. António Costa já é Primeiro Ministro, previsão (ou decisão?) que ele, mais prescientemente, havia feito por altura do “brilhante” anúncio da sua disponibilidade de substituir o Dr. António José Seguro como candidato a Primeiro Ministro (Nota bem: candidato a Primeiro Ministro, com prioridade, até no calendário, sobre o ser Secretário Geral do PS).
No meio de outras pesquisas, entretanto, dei de caras com esta “passagem” na revista “L’Esprit” (dez. 2007), insuspeita quanto às suas posições, num artigo intitulado “La réforme, la droite et la gauche”, a propósito da reforma universitária proposta por Sarkozy: “No entanto, a reforma em curso na universidade é exemplar para o futuro da clivagem entre a direita e a esquerda que é indissociável de uma sociedade democrática: se a esquerda moderada não é capaz de se “apropriar à esquerda” de um projeto de lei como este, a extrema esquerda, rígida e manipuladora, tem o futuro diante dela no sentido em que ela detém o poder das palavras.”
Mutatis mutandis, o Dr. Costa não se quis apropriar do projeto à sua direita, em princípio mais próximo do PS do que da extrema esquerda, abrindo a porta ao poder da palavra da extrema-esquerda. E veja-se quem, por palavras (e até por atos!), veio comandando o processo na praça pública. A “cereja em cima do bolo” é dada pela afirmação do Dr. João Semedo, que veio dizer que o PS viabilizou um governo de esquerda. Vê lá, Zé! Não foi a esquerda que viabilizou um governo do PS!!! E mesmo antes do Governo tomar posse lá vêm as votações em catadupa na Assembleia da República, a ponto de, segundo um dos diário nacionais, a propósito da extinção das provas no final do 1º ciclo, ter escrito em caixa “Os socialistas foram mais longe do que se propunham, já que a promessa era repensar a existência deste tipo de provas”.
E o PS vai engolindo tudo isto, mas o Dr. António Costa sabe bem isso e não o perturba, pois o seu caminho é outro. Ele quis ser, e já é, um “Princípe” dos tempos modernos, numa versão depurada de Maquiavel. Deixa-me citar o “Príncipe” no seu capítulo “Do principado civil”: “… para o (chegar a Príncipe) conseguir não tem a necessidade de possuir a maior virtude ou a mais feliz das sortes, mas antes uma astúcia afortunada”.
Na versão que li Napoleão Bonaparte comenta este ponto escrevendo: “Este processo não está todavia fora das minhas possibilidades e já me serviu muito acertadamente”. Mas isto é na parte que mostra como chegar a “Príncipe”. Depois ensina como o manter. E o Dr. António Costa (previsão minha) “leu o livro todo” e vai saber como o fazer. Vai distribuindo, com parcimónia, como ensina Maquiavel, as benesses ao povo, aproveitando uma pequena “almofada” e jogando com o tempo, porque sabe, como Maquiavel, que “os homens são de tal natureza que se receberem bem daqueles de que esperavam mal, se sentem mais gratos do que se sentiriam de outro modo, … e o povo amá-lo-á ainda mais do que se ele próprio tivesse sido eleito”. E, na altura própria, pois está nas suas mãos, fará cair o Governo e, com popularidade alta, ganhará as eleições sem precisar de outros. Claro, Zé, que isto é uma fábula minha, mas se todos continuarem a dormir e a menosprezar o Dr. Costa, a fábula tornar-se-á realidade. Até sempre, Zé Amado