Reedições fundamentais

Neste Agosto venho aqui recomendar três discos que foram reeditados este ano e que considero de obrigatória existência nas colecções mais arrojadas.

1 - Recordings 1987-1991, Vol.1, de VALENTINA GONCHAROVA, saiu em 2020, mas teve uma segunda prensagem de 300 exemplares em Maio passado.

Esta é uma obra incrível de alguém com formação de conservatório que, no recato do seu lar, se exercitava em constante experimentação.

A compositora, estilista, artista plástica e escritora soviética (nasceu na Ucrânia, mudando-se em 1984 para a Estónia), usava o violino como instrumento principal, a partir do qual subtraía sons que posteriormente manipulava através de fitas magnéticas e overdubbing, criando atmosferas sonoras de inusitados sons e de rara beleza.

Estas gravações estiveram mais de 30 anos escondidas em gavetas, enquanto a artista cimentava a sua carreira, quer na música clássica quer no circuito jazz. Em breve sairá o segundo volume desta série de pérolas imperdíveis!

2 - Gyllensköld, Geijerstam And I At Rydberg's, dos britânicos NURSE WITH WOUND, foi originalmente editado em 1983 e reeditado este ano num soberbo duplo LP com capa metalizada e em formato gatefold.

De resto, aqui somos remetidos para a fase seminal de experimentação do grupo de Steven Stapleton, numa espécie de banda sonora para um complexo habitacional em ruínas e assombrado.

O seu espectro de sons pode, pois, causar arrepios aos mais incautos, mas para os mais familiarizados com o universo deste incomum grupo de artistas sem amarras, esta é "apenas" mais uma viagem prazenteira ao mundo dos mundos do avesso!

3 - Love Secret's Domain, o icónico (e iconográfico! — a marcante capa é de Steven Stapleton, já previamente referido neste texto) álbum dos malogrados COIL, celebra em 2021 os 30 anos da sua edição.

Para marcar a efeméride, a etiqueta russa Infinite Fog fez chegar ao mercado um super-apetecível triplo LP em que o álbum (um compêndio excelso de estruturas electrónicas, moldadas ao formato de canções, onde as vozes de John Balance e do convidado Marc Almond corporizam narrativas surrealistas, cujo impacto, volvidas três décadas, é tão efectivo hoje como o foi em 1991) vem acompanhado por um suculento extra de 10 temas raros e versões alternativas.

Esta reedição, não sendo propriamente barata, é, todavia, um objecto colecçionável cujo valor (artístico e material) aumenta com o passar do tempo.