Editorial
Redes pouco sociais
O que dizer em relação ao futuro, para onde se projecta uma sociedade mais subserviente à inteligência artificial e menos atenta à inteligência emocional?
Os vídeos, textos e fotos virais tornaram-se moda nesta era da digitalização. Quando menos se espera, uma mensagem, que pode não passar de uma brincadeira ou de uma informação completamente descabida, dissemina-se pela internet, a uma velocidade estonteante.
Apressados, muitos dos internautas, sedentos de serem os primeiros a partilhar as ‘novidades’, replicam essas mesmas mensagens nas suas redes sociais, adicionam um comentário a outros comentários e, por vezes, ainda as enviam, de forma personalizada, aos amigos virtuais e aos amigos dos amigos virtuais. Em minutos, gera-se uma cadeia, que facilmente ultrapassa as fronteiras da comunidade, da região, do país, do continente.
Se o motivo tiver por base a prática do bem, atingem-se resultados louváveis, que de outra forma seriam difíceis e demorados a alcançar. Ao contrário, se as motivações forem maliciosas, as consequências podem ser desastrosas, gerar o pânico e a desorientação, como a situação que se viveu na semana passada em algumas escolas do País e da nossa região.
Tudo por causa de um vídeo instigador publicado numa rede social, a propósito do aniversário de um ataque bárbaro a uma escola nos Estados Unidos da América, em 1999, que foi sendo partilhado pelos adolescentes portugueses até se instalar um certo desnorte na comunidade educativa, pais e encarregados de educação incluídos.
Se este episódio, por si só, já é motivo de preocupação no presente, o que dizer em relação ao futuro, para onde se projecta uma sociedade mais subserviente à inteligência artificial e menos atenta à inteligência emocional? E vale a pena voltar a questionar a forma como estamos a educar os nossos filhos. Será que muitos deles estão habilitados para saber distinguir o que é informação, opinião ou manipulação?
A julgar pelo alarido causado no passado dia 20 de Abril em diversas escolas e pelos alertas deixados por um responsável da Brigada de Combate à Criminalidade Informática da Polícia Judiciária de Leiria, diríamos que não.
É que, segundo o inspector, grande parte dos jovens “são ingénuos e voluntariosos e há quem se aproveite disso para lhes dar objectivos que não são dignos nem correctos”. E o futuro é já amanhã.