Opinião
Quem quer ser Capital Europeia da Cultura?
Se esta candidatura é só um aspecto de uma política cultural mais estruturada, estão a fazer um belo trabalho em manter isso em segredo.
Portugal terá mais uma Capital Europeia da Cultura em 2027 e Leiria (mais 25(!) municípios) já apresentou a sua candidatura. Mas para quê?
Não se sabe muito bem.
Muitos se lembrarāo dos ganhos de “visibilidade” e “prestígio” prometidos aquando do Euro2004, mas poucos serão os que conseguem hoje traduzir isso em algo com alguma substância.
O motivo é simples: a construção do estádio foi desgarrada de qualquer tipo de estratégia de longo prazo para a cidade.
Mesmo não implicando esta candidatura um investimento absurdo como o do estádio, não pode servir ele de lembrete de que as políticas públicas devem ser pensadas e planeadas a longo prazo e não andar ao sabor de oportunidades mais ou menos pontuais?
Estudos na área indicam que estes eventos podem ter um efeito positivo e duradouro nas cidades que os acolhem, mas só quando eles são incluídos em políticas mais amplas e sustentadas.
O Manifesto da Rede Cultura 2027 (responsável pela candidatura) não faz mais do que oferecer um conjunto de generalidades inconsequentes e lugares comuns e não deixa ninguém descansado em relação ao lugar que um evento deste género ocupa nas políticas culturais da região.
O documento que estabelece os objectivos estratégicos do município para 2018-2021 deixa a ideia de que o executivo não sabe o que é uma política cultural.
Não há nada que mostre uma ideia clara, sistémica, a longo prazo e coerente do que se quer em termos culturais para Leiria.
Se esta candidatura é só um aspecto de uma política cultural mais estruturada, estão a fazer um belo trabalho em manter isso em segredo.
Pergunto-me se a promessa de 1,5 milhões de euros não foi quanto bastou para decidir concorrer.
Depois foi só arranjar tudo o resto em função da candidatura. E isto nem é a carroça à frente dos bois, é querer uma charrete sem nada que a puxe.
Os agentes culturais tentarão aproveitar o que conseguirem.
É coisa que sai com naturalidade a quem está habituado a viver a prazo e em precariedade.
Mas o que é que vai ficar depois? Um regresso à normalidade?
Os sinais são preocupantes.
Ser Capital Europeia da Cultura pode ser um caminho bonito e apelativo, mas só devemos tomá-lo se ele nos levar aonde queremos ir.
E se não sabemos qual é o nosso destino, como haveremos de saber que caminho tomar?