Opinião

Quem espera... desespera

13 abr 2017 00:00

A 4 de Dezembro de 2006, enquanto acendia o fiel cachimbo que guardava no bolso, Mário Lino, então ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, resolveu “presentear” os órgãos de comunicação regionais presentes com o anúncio de um “novo IC2”.

Com maior segurança, cruzamentos desnivelados, separadores e novos troços que iriam substituir a “velhinha” EN1 e até fechar os acessos privados directamente à via.

O anúncio foi feito no final da cerimónia da inauguração do último troço, com 12,5 quilómetros, do Itinerário Complementar 8 (IC8), ligando a freguesia do Louriçal (Pombal) ao nó da A1, junto à sede de concelho. A boa nova foi dada após uma breve conversa, que o JORNAL DE LEIRIA presenciou, com o seu assessor.

Sem referir uma data para o início das obras, o governante assegurou aos jornalistas que os estudos estavam a ser feitos e que, em breve, deveriam estar concluídos, passando-se então para a, há muito, solicitada renovação e transformação completa da EN1 em IC2.

Em Outubro de 2009, o ministro deixou a pasta e passou-a a António Mendonça, que o substituiu, num curto Governo, liderado por José Sócrates, e cujo fim aconteceu a 21 de Junho de 2011, no meio da crise da dívida soberana e após um pedido de resgate financeiro à União Europeia e ao FMI. Esta semana, voltamos a falar da EN1/IC2.

É certo que, no último ano, segundo os critérios da Autoridade Nacional, aquela estrada deixou de ter “pontos negros” no troço que atravessa o distrito, mas segundo a população e os autarcas, a insegurança mantém-se e, do prometido “novo IC2” de Mário Lino, nunca ninguém, no distrito de Leiria, viu os estudos… nem preliminares nem finais.

No concelho de Leiria, após várias mortes em 2014, devido a choques frontais, por invasão da via contrária, foi construído um separador central, em betão e prometidas – e ainda não construídas – rotundas na zona da Boa Vista, que melhorariam significativamente a segurança de quem por ali passa.

Mas circular na EN1/IC2 continua a ser uma verdadeira aventura, dado o volume de tráfego, principalmente de veículos pesados de mercadorias que, usando a estrada criada pelo Plano Rodoviário e 1945, “fogem” aos preços proibitivos de circular na A1, na ligação entre Lisboa e Porto.

No concelho de Pombal, em especial, a situação tornou-se tão complicada, com acidentes e trânsito lento, que a própria autarquia tomou, há pouco tempo, em mãos a organização de uma marcha lenta, para chamar a atenção para o problema. Em dez anos, morreram, no troço que atravessa o concelho, 45 pessoas.

Alguns presidentes de junta de Pombal comparam o estado do IC naquele concelho, onde não há separadores centrais, cruzamentos desnivelados, semáforos ou rotundas – à excepção de uma, construída pela Câmara – às situações de Leiria e Soure, onde houve uma melhoria.

Entre 2014 e 2016, segundo a Autoridade Nacional para a Segurança Rodoviária, o número de sinistros, no distrito de Leiria, desceu, embora com uma expressão demasiado pequena para os anseios das populações que têm de conviver com o IC2.

De oito mortos em 2014, passou-se para seis, em 2015 e 2016, mas o número de feridos graves até aumentou, de 10 para 21, embora com menos acidentes, de 469 para 400, nos últimos três anos. Olhando para tais números, vêm-nos à cabeça uma ideia batida… anunciada numa manhã fria de Dezembro de 2006.