Opinião
Queimaduras de primeiro grau
É trágico que cada hecatombe, desgraça ou conflito possa ser ligada a uma questão política, mascarada de ideologia
João Camargo, do movimento Climáximo (que nem sempre se destaca pelas melhores razões, apesar das boas intenções), assina no Expresso um artigo de opinião em que expõe a evidente relação entre quem “manda” na floresta, e quem assume os maiores cargos nas empresas de transformação de papel/celulose.
Aqueles que, evidentemente, lucram com a desgraça miserável que nos assola ano após ano, e que pronto reduzirá o nosso País não a cinzas, mas a algo que será pouco mais que um país de rastos, com queimaduras de primeiro grau.
É trágico que cada hecatombe, desgraça ou conflito possa ser ligada a uma questão política, mascarada de ideologia.
Assim foram as guerras do passado, as do presente e assim serão as do futuro.
Assim foi a “lei dos eucaliptos” de 2013; assim foi o caso “Casa Pia”; a fuga de Vale dos Judeus; a liberdade de Sócrates, o nosso; as gémeas brasileiras; tudo um rol distinto mas infame que ilustra uma das principais perplexidades do nosso País, que nos paralisa enquanto povo: a falta de explicação.
Muito mais que o véu críptico do sebastianismo, a falta de explicação que conduz, inevitavelmente, à falta de justiça, à impossibilidade de fazermos o luto, de virar a página, de pensar que amanhã é um novo dia, vendo o céu cinzento das nossas janelas que dão para a rua, um céu abafado, baixo e desolador que nos revela que o nosso País arde por fora, enquanto por dentro ardemos, essa falta de explicação é o que nos define.
A confusão, o não saber, a dissimulação, a inverdade, o acordar sem saber o dia de amanhã, talvez seja isso que nos caracteriza, define e limita como o povo mais melancólico da Europa que deita beatas para o fogo que arde à nossa frente, porque em nada vemos mal.
Nem na morte, nem no país em chamas, nem no desaparecimento de quem somos à mão de quem nos governa, e nos tem desgovernado.
Mas...
“Era um café, se faz favor. Está um dia lindo, mas talvez chova. Ou talvez arda tudo connosco lá dentro.” Quem sabe, quem se interessa?