Opinião
Que mundo insólito
Como repetidamente lembra o Papa Francisco, “Vivemos uma Terceira Guerra Mundial em pedaços”
Meu caro Zé,
A situação internacional agrava-se com crescente receio do uso de armas nucleares, fazendo lembrar tempos da ida “Guerra Fria”. Só que, como repetidamente lembra o Papa Francisco, “Vivemos uma Terceira Guerra Mundial em pedaços”, com caraterísticas bem diferentes desses tempos, pela existência de mais protagonistas, uns muito ativos, outros mais escondidos numa ambiguidade inaceitável, no meio de um maior potencial de destruição.
É neste contexto que não pode esconder-se a preocupação pela entronização de um novo, mesmo que diferente, Mao-Tse-Tung, ou seja, Xi Jiping. A sua cínica arrogância, bem visível na TV, evidencia um inqualificável desprezo por quem o acompanhou até este impensável epíteto de “líder individual da China”, que, obviamente, legitima a suspeita do modo como ele “olha” para a pessoa humana. É, afinal, o retrato do crescimento das autocracias que ameaça as democracias. Mas não terão as atuais democracias culpas quando, como é cada vez mais sentido, não conseguem criar e manter uma cidadania integral, com o agravamento das desigualdades dentro dos países e internacionalmente?
Um sinal desta situação em Portugal surgiu-me, no mesmo bloco informativo que referiu à consolidação de Xi Jiping, através da notícia do aumento do roubo de bens alimentares, fundamentalmente por idosos e pais de família. Nesse bloco informativo identificou-se um comportamento contrastante que dá que pensar: a colocação de sensores em latas de atum em cadeias de distribuição e uma vendedora de peixe a dar o dobro do peixe que o dinheiro da família podia comprar, quando se apercebeu da situação dessa família.
Os “racionais” de serviço dirão imediatamente que a culpa é da inflação. Pois é! Só que ela prejudica sempre os mais fracos, podendo proporcionar ganhos especulativos a outros. Não tenho dados suficientes para provar que, sobretudo em certos bens e serviços, a inflação tem um valor que, em parte, pode ser devida à especulação ou à ignorância.
A este propósito, recordei que, nos anos 70, após o primeiro choque petrolífero, um vendedor de melões de Almeirim me cobrou 7 escudos/Kg. Contudo, no dia seguinte, pediu-me 12 escudos. Perante o meu espanto, “explicou” que, como a gasolina tinha subido 5 escudos/litro e ele vinha de Almeirim, também o kilo de melão tinha de subir 5 escudos. Quando lhe expliquei que ele não gastava 1 litro de gasolina para transportar cada quilo de melão, lá consegui trazer o melão por 8 escudos/kg. Interrogo-me se não haverá por aí, também, uns “melões de Almeirim” na cadeia alimentar. Até sempre