Opinião

Precisamos de uma casa Quente!

19 dez 2023 11:25

Gosto de títulos que tenham tanto de ambíguo como de oportuno

Não vou falar da escassez de casas comuns, a preços razoáveis, que assola o nosso País.

Vou, antes, começar por algo que ouvi há alguns dias.

Parece que a nossa Casa Episcopal o vai deixar de o ser e passar para o Seminário.

Por esses dias, também, ao escutar uma rádio reportagem da Antena 1 sobre a nossa cidade Natal o jornalista provocava a vereadora respetiva com o desejo de que, no próximo ano, houvesse um Presépio neste evento...

Penso que haverá vários. Mas sim falta O, ou UM, não faltando tendas e muitas outras cabanas.

E ainda bem.

Louvo estas iniciativas e acho que muito bem trazem e se mais não, talvez seja por inércia de quem não seria suposto.

No Natal, um Deus feito menino procura ser recebido.

Numa casa. Numa tenda. Num curral.

Parece que a qualidade da casa acabou por ser pouco significativa.

Mais reveladora foi a forma encontrada. Diante de casas cheias e gente ocupada, foi no meio de palha e animais.

Deus não veio à grande.

Veio com a simplicidade de quem sabe que o que tem para oferecer (mesmo recebendo ouro, incenso e mirra, sim, somos reis, deuses e mortais) tem, na sua Missão, a impossibilidade da compreensão humana, mas também a possibilidade da sua superação: acolhe quem chega, se anuncia a quem vem e impressiona quem se fica em contemplação.

No meio da azáfama natalícia que ocupou a nossa cidade, talvez falte uma proposta (eclesial, não é do âmbito municipal) de paz, de silêncio, de esperança, efectivamente impregnada da tentativa de continuar o esforço de Deus em se fazer presente e continuar presente...

Numa época em que se anunciam unidades pastorais, sonho com uma Casa, e não um “hotel”, que nos ofereça, também fruto da convivência entre os seus habitantes, a partilha e purificação da fé, o reforço das acções fruto da troca de virtudes, a recolha das conquistas e apostas ganhas, a oferta de um espaço familiar e de encontro, a maturação de ideias e projectos disruptivos, a oração e revisão de vida, as pistas para as dúvidas e hesitações existenciais...

Os espaços são reveladores em toda a dita História da Salvação.

São e sempre hão-de ser espaços transformadores.

De conflito, também! Que fé queremos, ou havemos de querer, se esta não nos mantém em questionamento constante!?

Não será fechados em espaços que mais parecem hotéis, residências que potenciam a solidão, disfarçada de comunhão, tendas que tudo oferecem menos a experiência do encontro primordial e comunitário.

Precisamos de uma Casa. Assim como Deus... para recebermos e sermos recebidos (e questionados) com Calor!