Opinião
Pinhal
Uma vez por semana, normalmente ao fim-de-semana, vamos passear à floresta
Como escrevo aqui uma vez por mês, uma vez por ano calha na época de cogumelos silvestres, no início do Outono. Que eu adoro, não apenas pelos cogumelos.
A mudança de estação permite-nos comparar com a do ano passado e observar o que se esperam ser os próximos meses.
Se há mais cogumelos, como as matas evoluíram e verificar que os pinheiros demoram muitos anos a desenvolverem-se.
Agora que o pinhal ardeu é que temos consciência do tempo, da idade, das árvores que nele habitavam. E da sua importância.
Apesar dos fungos se adaptarem a todas as condições para viverem, as matas e florestas mais antigas, pela quantidade de matéria orgânica no solo, pela diversidade de plantas e arbustos, são o ecossistema propício ao seu desenvolvimento.
Ando a ler o Entangled Life (Vida entrelaçada) do Merlin Sheldrake, investigador e escritor que se dedicou à micologia, que para além de classificar e clarificar alguns aspectos destes organismos contextualiza historicamente as descobertas relacionadas com os fungos, dando-nos uma importante perspectiva do seu lugar na ecologia, uma vez que tem relações simbióticas com outros organismos.
Uma vez por semana, normalmente ao fim-de-semana, vamos passear à floresta.Sem a pretensão de ser uma meditação, a que os japoneses chamam de banho de floresta, shirin-yoku.
Nesta prática, a caminhada lenta e com a atenção focada nos movimentos contribui para uma consciente ampliação da percepção dos sentidos.
Aqui procuramos focar nas nossas pegadas, e treinar o olho para detectar formas ou apenas tufos de caruma levantados que se assemelhem a cogumelos. E evitar os espinhos dos arbustos mais picantes.
Apesar de ser mais comum ouvir o termo em inglês foraging, forragear está presente no dicionário de língua portuguesa e devia ser mais aplicado. Significa simplesmente procurar e recolher alimentos na natureza.
Num mundo cada vez mais urbano e suburbano, de onde raramente saímos das bolhas da casa e do carro, estas práticas de relacionamento com ambientes naturais são fundamentais para o nosso reforço imunitário, descanso e reenergização.
Para além disso as florestas são ricas em vários recursos, como a resina, pinhas, lenha, madeira e até cogumelos.
Coisas que um deserto decerto não produz.