Opinião

Pax Romana  ou Cristiana?

25 dez 2025 16:28

A ambiguidade que mina as nossas certezas e vivências de cada dia, também proclama que o mundo é muito maior que o nosso canto

Em mais um final de ano, impõem-se as análises ao acontecido e do que se vai perspectivando. Os frutos dessa reflexão serão, sempre, imagem das perspectivas do sujeito e do seu contexto, com os seus próprios limites e mundividências. La Palisse. Recentemente, Rosalía trouxe para os nossos ouvidos a questão da espiritualidade, nomeadamente a cristã, como preocupação e questionamento ainda não fechados e sepultados pelas culturas xpto-modernas.

Pasme-se, e que ela se cuide, para que uma certa cultura do cancelamento, mais habituada a denegrir e a enclausurar, toda e qualquer espécie de abordagem mais metafísica da existência, para os lados do obscurantismo, não a ostracize em definitivo. O humano que em nós existe, também persiste e, muitas vezes, entusiasma-se. Literalmente. Razão que o leva a saborear essa inquietude que desconfia da paz iluminada que se diz ser uma conquista da recente civilização do bem-estar muito pensante.

Recordemos as guerras e os conflitos ideológicos entre países, ou dos seus governantes. Assumamos a incerteza das vontades quanto à preservação ecológica do planeta. Questionemos os entraves às pressões migratórias trazidas por quem quer uma vida melhor. Assumamos que, num mundo em convulsão, qualquer ídolo pode ir ao beija-mão presencial para os lados das américas e deixar-nos perplexos com essa aparente ambiguidade.

A ambiguidade que mina as nossas certezas e vivências de cada dia, também proclama que o mundo é muito maior que o nosso canto.

Sim. Assusta essa indefinição a que foi votada a paz que pensávamos poder viver, garantidamente. Como se vivêssemos num momento “perfeito” da história. Mas a verdade é que vivemos, sempre, entre a paródia do imediato e a celebração do perene. E, tal como no passado, evocado no título deste texto, o suposto bem-estar garantido, vai-nos ajudando a enterrar as convicções, práticas, costumes e tradições que eram, e são pilares e garantes, da nossa civilização.

E sim, a espiritualidade cristã pode ter inspirado muita asneira ao longo da história, mas continua a ser garante, fidedigno, dessa necessidade humana do almejar algo maior. 

Com tempos e ritmos!