Opinião
Papagalus
Opinião | Foi das primeiras palavras que aprendi em Grego, fora dos livros. Ensinaram-me uns amigos que foram embarcadiços comigo, num autocarro, a tocar Heavy Metal do “Mediterrâneo” por essa Europa fora.
Outras palavras que aprendi, pelos simples facto de serem parecidas com as nossas foram fassolada (feijoada), kravata (gravata), veranda (varanda), malaperna (usem a vossa imaginação).
E, papagalus, papagaio. E por falar em papagaios, umas das anedotas que mais gosto é daquela em que vai um papagaio e um homem num avião.
O homem é super cordial e simpático com a assistente de bordo e ela não lhe liga nada, nem lhe traz uma bebida, enquanto que o papagaio a ofende e lhe chama nomes, sendo atendido de imediato.
O homem vendo aquilo, imita o papagaio (!), conseguindo o mesmo efeito. Até nas piadas conseguimos ser ao mesmo tempo machistas, snobs e mal-educados.
Mais adiante e com toda a gente farta da malcriadagem (que palavra também!) os dois são expulsos do avião.
O homem cai mas o pássaro voa e a moral da história está no que o papagaio diz ao homem antes deste se despencar dos céus abaixo: “para quem não sabe voar, tens uma língua do …” e aqui usem a imaginação outra vez, se não vos molestar.
Nas últimas semanas e lides com quem entra em diálogo mudo comigo, tenho visto muito desta ave em todas as nacionalidades e lembrado-me muito da anedota quando nos pomos a saber um pouco mais daqueles que nos perseguem e ofendem.
Ter este conhecimento é um alívio, mas é um descanso perigoso pois rapidamente nos sentimos melhores e “mais” que os outros, entrando no pecado social da sobranceria.
Por outro lado, é uma triste constatação da realidade onde vivemos, onde preferimos torcer e quebrar a qualquer arranjo construtivo que nos enriqueça no tempo todo que gastamos a discutir e a falar mal de, e uns com os outros.
Vivemos numa gaiola. Dourada para alguns, cinzenta e fria para a maior parte. Cada um de nós aprendeu uma coisa. Uma palavra ou um conjunto de frase, que vamos repetindo até ficarmos sozinhos na escuridão dos estores fechados e das luzes apagadas de uma cozinha.
* músico, vocalista dos Moonspell