Opinião
Opinião (pouco) livre
Felizmente, o Jornal de Leiria tem tido uma estabilidade financeira que lhe permite continuar a ser fiel aos princípios para o qual foi criado.
A reacção à notícia publicada pelo Jornal de Leiria na última edição, em que alguns encarregados de educação manifestavam a sua indignação relativamente à pressão e manipulação que, segundo eles, certos colégios estariam a exercer sobre os alunos e os seus pais, teve a reacção esperada.
A notícia foi aproveitada e explorada por quem concorda com a decisão do Governo e, ao mesmo tempo, atacada pelos defensores dos contratos de associação, que a tentaram desacreditar, negando os factos e pondo em causa a idoneidade deste jornal e da jornalista responsável pelo trabalho. Nada de novo ou de surpreendente num País onde a liberdade de expressão e de opinião estão consagradas na constituição e foram uma conquista conseguida à custa de muito sofrimento, mas onde esse direito não é bem aceite e entendido por todos, e onde muitas pessoas ainda têm medo de dar a cara pelo que pensam.
Em algumas cabeças ainda impera a ideia de que a liberdade de expressão só é admissível enquanto as opiniões não divergirem das suas, deixando de ter sentido quando alguém tem a coragem de se posicionar desalinhadamente. Por outro lado, para essas pessoas, os jornais servem apenas para corroborar as suas opiniões e dar conta dos seus projectos inovadores, das suas causas, dos seus investimentos ou do lançamento de novos produtos, recorrendo, frequentemente, às agências de comunicação para tentarem colocar como notícia o que, muitas vezes, não passa de publicidade.
Quando os assuntos são sensíveis e incómodos, os jornais devem esquecê-los e fazer de conta que não existem, sob pena de passarem a ser rotulados de parciais, levianos, pouco profissionais ou estarem a trabalhar a mando de alguém. Como todos perceberão, as pressões para que qualquer órgão de comunicação social não toque em determinados assuntos são enormes, aumentando a probabilidade das cedência na directa proporção às dificuldades económicas que sentem. Sem publicidade não sobrevivem, sendo cada vez mais arriscado fazer notícias sobre quem ainda a compra.
Felizmente, o Jornal de Leiria tem tido uma estabilidade financeira que lhe permite continuar a ser fiel aos princípios para o qual foi criado e, mais tarde, incluído no Grupo Movicortes. Princípios que passam por informar descomprometidamente, por abordar os assuntos que entende serem mais relevantes para a região, por dar voz às pessoas, sejam opiniões maioritárias ou de uma minoria. Também por dar conta do que melhor temos e fazemos na região, mas não esquecendo os problemas que estão por resolver ou vão surgindo. Neste caso específico da questão dos contratos de associação, o Jornal de Leiria tem tentado dar voz às duas partes, dando conta dos argumentos de cada uma, sem tomar qualquer posição. Continuará, no entanto, a abordar todos os assuntos que lhe pareçam relevantes, mesmo que incómodos para qualquer dos lados. Sempre com o máximo rigor e isenção, como aconteceu na notícia em causa.