Opinião
O poder de um “simples” disco
De acordo com a revista britânica Uncut, que o elegeu Álbum do Ano, “Nixon” apanhou “muita gente de surpresa”
Estava aqui a preparar aquela habitual listinha breve de uns disquitos para ouvirem durante as férias no sossego da vossa praia favorita (com auscultadores, obviamente), quando, de repente, me dei conta de algo espantoso: cumpriram-se há uns meses 25 anos da edição de um disco que, literalmente, mudou a minha vida ao despoletar uma série de acontecimentos que, vistas bem as coisas, acabaram por contribuir decisivamente para que, por exemplo, hoje, viva em Barcelona.
Em Fevereiro de 2000, os norte-americanos Lambchop, liderados pelo genial Kurt Wagner, lançaram “Nixon”, quinto álbum de originais da banda e uma obra incontornável. Se alguma vez tivesse mesmo de escolher só três discos para ouvir pelo resto dos meus dias, um deles seria este.
De acordo com a revista britânica Uncut, que o elegeu Álbum do Ano, “Nixon” apanhou “muita gente de surpresa”. Gente que, aparentemente, “não estava preparada para a extraordinária e embriagante mistura de estilos de um disco que abraça com elegância a soul, o psicadelismo, a country mais sombria, o gospel e a pop orquestral”.
Pois, meus caros, eu estava preparado e bem preparado. “Nixon” entrou com estrondo na minha existência e por causa dele e de canções tão bonitas e arrebatadoras como “What Else Could It Be?”, “You Masculine You”, “The Distance From Her To There” ou “The Book I Haven’t Read”, em Agosto de 2000, eu, o meu irmão, a Kelly, o Pê e o Zé, arrancámos de Leiria para Benicàssim, em Espanha, onde os Lambchop actuavam naquele que viria a ser o nosso (e de muitos outros amigos) festival de Verão nos anos seguintes.
Uma experiência transformadora, que, em última instância, me permitiu olhar para este lado da fronteira com outros olhos e começar, sem o saber, a construir o percurso que aqui me acabou por trazer. O início do resto da minha vida, por assim dizer.
“Nixon” foi o disco certo, na altura certa e, 25 anos depois, continua tão essencial como nesse momento. Se nunca o ouviram, não percam nem mais um segundo. Se há muito que não o ouvem, não percam nem mais meio segundo.