Opinião
O país das bananas
Só pode ser brincadeira o relato de alguns agentes da polícia sobre indicações para “deixar os adeptos ingleses aproveitar, beber e contribuir para a economia portuguesa”
Recuperei esta expressão, mais ou menos boçal, porque é das primeiras que me vem à memória quando observo as imagens que nos entram casa dentro pela televisão, relativamente ao ambiente vivido no último fim-de-semana na cidade do Porto, alusivas à realização da final da Liga dos Campeões no Estádio do Dragão.
Deve salientar-se que foi o único jogo de futebol que teve a possibilidade de ter público nas bancadas, em pandemia, cerca de 16.000 espectadores, e que há muito se sabia da vinda dos ingleses, adeptos das duas equipas participantes, de Manchester e Londres, para assistir ao jogo.
Ora, parece-me a mim muito fácil controlar toda esta situação, sendo que deveria ter sido articulado com UEFA as condições, de forma a garantir que toda esta gente estaria o menor tempo possível em Portugal, devendo programar os vôos charters necessários, junto das companhias aéreas, de forma que a sua presença tivesse o menor impacto, sobretudo quando em Portugal ainda estamos longe de ter a situação completamente controlada.
Só pode ser brincadeira o relato de alguns agentes da polícia sobre indicações para “deixar os adeptos ingleses aproveitar, beber e contribuir para a economia portuguesa”.
Mas quando até o secretário de Estado do Desporto diz “que se trata de mais uma experiência que o Governo conta para perceber se temos condições” está tudo dito!
Ainda para mais quando já se tinha a experiência da celebração da vitória do Sporting na Liga Nacional, onde, sendo bastante difícil de impossibilitar a explosão de entusiasmo pelo jejum de 19 anos, e quando se anunciava que estavam a ser negociadas as condições entre polícias, autarquia e clube, não se percebem os exageros que foram permitidos.
E depois íamos assistindo, em simultâneo, às multas a aplicar no acesso às praias…
Mudando de assunto, fiquei estupefacto com a notícia de que o INEM iria suspender o plano de substituição de ambulâncias aos bombeiros, porque tinham uma perda de cerca de 90 milhões com a Covid-19.
Tudo isto porque, segundo parece, terá sido desviada a verba que se recebe anualmente dos seguros contratados pelos portugueses, para fazer face às dificuldades de tesouraria do Ministério da Saúde.
Assistimos ao despudor das entidades públicas competentes em, reiteradamente, desconsiderarem os bombeiros de Portugal, esquecendo o papel primordial que desempenham na sociedade portuguesa, a vários níveis, com particular relevo paras as questões da emergência e socorro.
Já não basta os valores miseráveis atribuídos aos bombeiros, através de protocolo, para garantir um serviço que sairia incomensuravelmente mais caro ao Estado português se tivesse que garantir todo esse serviço como, ainda agora neste ambiente de pandemia, não tiveram a sensatez e sentido de justiça de ajustar os valores praticados, quando as corporações têm custos acrescidos com a obrigatoriedade do uso de equipamento de protecção individual, por força da Covid-19.
Mas quando se continua a dar conhecimento das directivas, operacionais e financeiras, do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais pouco dias antes da sua entrada em vigor, sem qualquer tipo de apresentação e discussão prévia, está tudo dito!
A este tema, bombeiros, voltarei mais à frente, durante o Verão, quando estiver no tempo de eleger os novos órgãos sociais da Liga de Bombeiros Portugueses.