Opinião

O lugar do corpo

10 mar 2016 00:00

Para o corpo deseja-se a perfeição estética, a significar o encaixe perfeito nas apertadas regras que esta parte do mundo um dia se lembrou de instituir e que não contemplam as múltiplas “imperfeições” (...)

Sempre que considerado desajeitado, julgado incapaz, ou catalogado fora dos cânones que condicionam a ideia de perfeição e beleza, o corpo distancia-se lentamente do ser que o habita.

Começando por se tornar estranho, transforma-se depois, secretamente, em prisão, assumese como inimigo, e perde-se por fim enquanto estreita e privilegiada ligação ao mundo e ao outro. Umas vezes abandonado, outras torturado para que se pareça com o que não pode ser, o corpo perde o seu lugar natural de prazer, de comunicação, de descoberta, de encontro e de expressão.

Sempre que proponho a dança/movimento a adultos, as invariáveis respostas são ou ajuizamentos severos quanto à forma do corpo, ridicularizando-o, ou descrenças obstinadas nas suas capacidades de movimento, ou considerações depreciativas, escarnecedoras até, sobre a alteração das qualidades que um dia terão tido. Um corpo desconsiderado, portanto, tornado impróprio para a expressão e auto limitado nas suas capacidades de descoberta.

Para o corpo deseja-se a perfeição estética, a significar o encaixe perfeito nas apertadas regras que esta parte do mundo um dia se lembrou de instituir e que não contemplam as múltiplas “imperfeições” de origem e ainda menos as que o decorrer dos anos vão trazendo.

*Professora de dança

Texto escrito de acordo com a nova ortografia

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