Opinião
O lado mau do futebol
O dinheiro é um bom servo mas um péssimo patrão
É preciso dizê-lo com todas as palavras e por muito mais pessoas: o futebol tem um lado mau e podre.
Por todas as coisas boas que o futebol nos traz, o seu lado mau deita tudo a perder.
Não é um tema neutro e é um tema muito difícil de debater porque invariavelmente o nosso espírito tribal fica acima do gosto pelo desporto, agravado com o grau de “ferrenho” de cada um.
Todas as graças que se possam fazer são entendidas sem humor por uma das partes.
O futebol é uma linguagem universal. A emoção de vibrar com os amigos num estádio de futebol é indescritível.
Há poucos meses estive no Quénia (também aqui o relatei em crónica) e sou testemunha do entusiamo com que os representantes de 23 países tão diferentes acolheram a notícia de uma peladinha de descontração.
Sou testemunha da alegria com que uma escola profissional recebeu 22 t-shirts estampadas com o logotipo do projecto, a verde e vermelho, como um bom derby deve ser.
Veja-se o famoso jogo da trégua de Natal de 1914… ou lembremo-nos de Nelson Mandela, habilidoso que foi em usar o desporto de forma conciliadora.
É um exemplo raro de meritocracia na sociedade, não joga o filho ou o primo ou o amigo à conta das ligações que tem, mas quem se destaca pelo mérito que demonstra.
É por isso mesmo um poderoso elevador social, providenciando oportunidades que de outra forma muitos jovens e crianças não iriam ter.
Os jogadores são heróis de vida, inspirando gerações com os seus hábitos, a sua forma de estar, de falar, de vestir, tudo.
A luta contra o preconceito e racismo tem sido assumida em posições públicas aos olhos de milhões de pessoas, tornando-se palco de decisivas e importantes mensagens políticas dos nossos tempos.
Mas depois há todo o lado invisível do futebol, o do negócio, que ultimamente tem vindo a público e onde nada são bons exemplos, nada revela mérito ou dignidade.
Há pouco tempo fomos o embaraço internacional à conta do jogo da vergonha onde a culpa foi de todos e de ninguém, quando uma das equipas entrou com 9 e saiu com 6, contrariando tudo o que de mais básico se deveria acautelar na parte desportiva do futebol. O episódio envergonhou qualquer português de entendimento suave.
As inúmeras investigações vindas a público sobre os agentes e dirigentes de clubes de futebol transpiram negociatas, corrupção, …. e não vale a pena olhar a cores, os telhados são de vidro e as paredes de palha.
Só os fanáticos devotos, qual igreja ou seita, conseguem comentários limpos sobre tudo o que tem acontecido.
Basta ver os programas televisivos. Horas com análises (estéreis) que por norma têm muito mais de aleatoriedade do que qualquer outra causalidade que lhe queiram associar.
As televisões desdobram-se em painéis cheios de pessoas letradas numa espécie de Tarot analítico de futebol, em horário nobre e em simultâneo. O tempo de emissão televisiva deve ser barato para se prestar àqueles espectáculos.
A lógica do futebol envolve muitas dimensões e paixões (boas) da qual não nos conseguimos separar, que deveriam ser suficientemente importantes para o futebol se livrar de determinado tipo de pessoas, negócios e vícios. Resta saber como…
O dinheiro é um bom servo mas um péssimo patrão.