Opinião

O exemplo do 'vale tudo'

9 jun 2016 00:00

á não há paciência para o egoísmo que nas últimas gerações fez enriquecer uns poucos enquanto a maioria esbraceja para se manter à tona.

A polémica em torno da decisão do Governo de diminuir o número de turmas com contrato de associação passa por três questões de natureza distinta: a ideológica, que coloca em posições opostas os que entendem que o Estado deve ter maior ou menor intervenção na sociedade; a económica, em que esgrimem argumentos o Governo, que tenta reduzir os custos com a educação, e os colégios, que, no fundo, são empresas que procuram assegurar a sua rentabilidade; e ainda a parental, em que os pais lutam pelo que entendem ser o melhor para os seus filhos.

Será esta última, a vertente que envolve os pais, que tem levado a que o assunto dos contratos de associação tenha ganho a força mediática que se tem observado, com milhares de pais mobilizados em torno de uma causa que entendem ser determinante para a educação dos seus filhos.

Sobre isso, nada a observar. Todos os pais, os que merecem ser chamados dessa forma, querem o melhor para os seus filhos e lutam para que isso aconteça, mesmo que por vezes de uma forma um pouco irracional.

Para muitos, a decisão do Governo que poderá obrigar os seus filhos a mudar de escola é uma ameaça ao que entendem que seria o percurso educativo que estes deveriam ter. Seja por razões de segurança, de qualidade de ensino, de estatuto ou do tipo de relações. Os colégios, mesmo que ilusoriamente, transmitem-lhes esses sentimentos, dão-lhes essa percepção.

Mudar, já se sabe, é sempre um problema, mas mudar o que se tem pensado para os nossos filhos é sempre um problema maior e que traz mais carga dramática. Nada disso, no entanto, justifica as “artimanhas” a que muitos estão a recorrer para tentar contornar o problema. Numa lógica de que os meios justificam os fins, muitos pais estão a alterar as suas moradas de residência para garantir prioridade nas matrículas dos seus filhos nos colégios. Ou seja, a preocupação com a educação dos seus filhos parece ficar suspensa por algum tempo, com os pais a passarem aos seus descendentes, através do exemplo, que o que importa é atingir o objectivo, mesmo que para isso se cometam ilegalidades e se passe por cima dos outros.

Não vale a pena explorar aqui neste espaço onde levam essas práticas, pois, infelizmente, todos estamos 'carecas' de saber e de sentir as consequências da lógica do 'vale tudo' para fazer luzir o umbigo. Já não há paciência para o egoísmo que nas últimas gerações fez enriquecer uns poucos enquanto a maioria esbraceja para se manter à tona. A esperança, que ajuda sempre a viver, está nas novas gerações e na forma como terão capacidade para fazer diferente. No entanto, para que as expectativas se concretizem, estas terão que ser educadas para essa diferença, na qual, decididamente, exemplos como este são, de todo, dispensáveis.